Artigo de João Damasceno: Oscarito e suas performances mágicas em São João Batista

Oscarito bem que poderia ter sido um personagem do livro Cem Anos de Solidão, do escritor colombiano, Gabriel García Marquez, pois nos faz lembrar do cigano Melquíades da cidade fictícia de Macondo que sempre passava por aquele lugarejo, trazendo novidades (que já existiam em outras partes do mundo): o gelo, a dentadura, o ímã, a lupa, os óculos e, ainda assim, fazia um grande sucesso e causava admiração entre os moradores de Macondo.

Roberto Machado (RJ) – Lancha Nova Estrela (1979) – São João Batista – MA

Assim como pouco se sabia sobre os ciganos que, de tempos em tempos, acampavam no vilarejo de Macondo, pouco sabíamos a respeito de Oscarito. Mas, concordávamos que ele detinha a nossa atenção com seus números e truques de magia, sempre que se apresentava nos pequenos circos que apareciam em São João Batista, num tempo em que não existia internet e, até mesmo a televisão, era um artigo de luxo, pois, poucas casas tinham uma, em suas salas.

Daí, quando aparecia um circo, desses circos mambembes mesmo, desses do tipo “tomara que não chova”, Oscarito era presença marcante. E como nos divertíamos. Lembro que quando ele nos chamava para participar de algum número no circo, ficava com um certo medo dele nos fazer desaparecer e não consegui mais voltar…rsrs. Quando íamos fazer trabalho de escola, em sua casa, com a saudosa e querida amiga Ângela, ficava com muita curiosidade para saber mais sobre a figura emblemática do seu pai.

Além do circo, Oscarito tinha outra paixão: a sanfona. Muitas vezes, ainda adolescente, o ví tocando com outros parceiros musicais da época: Zé Pixé, Leopoldo, Nhô Cá, Nhá Bita, Bigurrilho e Batistinha. Faziam maior sucesso na cidade. Em um episódio mais recente, estando de passagem por Brasília, fui na feira mais popular do Distrito Federal e encontrei um palhaço que vendia bonecos, seu nome é Zé Gaiola.

Conversando com ele descobri que tinha passado uma temporada na Baixada, no circo Palace Show, no qual conhecera Oscarito e fizeram muitas turnês pela região. Contou ainda, que cansou de amanhecer o dia vendo-o tocar, debruçado em seu teclado. Enfim, há muitas histórias pitorescas e engraçadas sobre Oscarito, era uma figura. Chico de Lindoca, meu parente, sabe muitas dessas histórias, pois fizeram até números e apresentações de comédia teatrais juntos.

Recentemente, recebi do cineasta Roberto Machado (RJ), algumas fotos dos bastidores do filme Nova Estrela, do qual foi diretor. A película foi filmada em 1979, durante uma viagem da lancha Nova Estrela, de São João Batista para São Luís e, qual não foi minha surpresa, quando abri o arquivo, dentre as fotos me deparei com uma cena inusitada. No convés da lancha, um grupo de pessoas, onde imediatamente identifiquei a pessoa em destaque: era Oscarito fazendo mais um dos seus truques para um grupo de jovens joaninos, dentre os quais também reconheci, na pequena plateia, meus primos Rico e Djalma Pinheiro, que assim como os demais se deleitavam com as peripécias e truques de ilusionismo do grande Oscarito.

Oscarito exercia esse fascínio entre nós, tinha um estilo muito peculiar, com seu inseparável óculos ray ban, bem ao estilo Waldick Soriano, seus truques chamavam a atenção dos expectadores com humor, mistério e muita expectativa, ele prendia a atenção de todos, enquanto executava os seus números circenses. Era um multiartista, fazia experiências, números teatrais, andava de costas em sua bicicleta, tocava com a sanfona voltada para as costas, enfim era muito talentoso e inventivo.

Somos felizes por termos tido um artista circense e músico, em nossa terra, tal qual o Oscarito, que despertava nossa capacidade de imaginar, numa época em que a magia do circo, o encantamento do teatro eram as únicas formas de entretenimento e diversão.

Viva o Circo! Viva o Artista Popular Brasileiro!

João Damasceno Júnior, antropólogo e cientista social.


7 respostas para “Artigo de João Damasceno: Oscarito e suas performances mágicas em São João Batista”

  1. João Damasceno, diante de tantas notícias ruins, um artigo bem escrito e bem produzido. Parabéns pela conjugação das palavras…

  2. Grandes contribuições estas pessoas deram à nossa cidade querida, São João Batista.
    Um texto simples, de fácil compreensão.
    Parabéns João!

  3. Valeu Júnior!

    Parabéns, e obrigado por nos trazer essas lembranças.

    Que apareçam outras pessoas/figuras que marcaram sua época e nossa história.

    Tempos bons…

  4. Bela recordação!

    Lembro das muitas vezes que Oscarito visitava a Casa dos meu pais no Povoado Santana.
    Quando menino, tinha muito “medo” quando dizia que ia “arrancar o meu dedo” mostrando uma das suas mão faltando o polegar. kkkk

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