CONHEÇA A HISTÓRIA DE DONA GRAÇINHA, COREIRA NATURAL DE SÃO JOÃO BATISTA

O que é que a coreira tem? “Ela tem que estar com esses colares bonitos, essas blusas chiques assim, essa saia finíssima, e se preparar para fazer a punga certa.” É assim que Maria da Graça Mota Belfort, a Dona Roxa, uma das mais experientes coreiras em São Luís, descreve a caracterização básica das dançadeiras dos grupos de Tambor de Crioula. Tendo o Centro Histórico como cenário, ela conversou com O Imparcial, acompanhada pela amiga Maria das Graças Sá Calvert, ou Dona Gracinha, outra autêntica representante desta manifestação secular, sem dúvida uma das mais fortes expressões da cultura popular maranhense.

Tambor de Crioula de Dona Teodora
Durante a conversa, ambas exibiam toda a riqueza das vestimentas das coreiras: saia de chitão florido – bem rodada, para acentuar o movimento –, blusa branca de renda, torso na cabeça, e muitos colares. Filha de dono de grupo de tambor e herdeira do entusiasmo da mãe, Dona Roxa, natural da cidade de Itapecuru Mirim, já dançava como coreira na infância. “Desde os 7 anos que eu sacudo saia, até hoje, meu filho. Isso vem de geração em geração”, afirma ela com um bom humor que arranca gargalhadas da companheira.
Dona Gracinha, por sua vez, nasceu em São João Batista, e mora na capital há mais de quatro décadas. Ela não dançou quando criança, iniciado-se na arte há cerca de 35 anos, quando foi-se enturmando com os grupos. “Eu me sinto muito bem [quando danço]. É uma energia que sobe, e parece que a gente está flutuando. A gente tem que fazer o que gosta e o que sabe. Nós somos maranhenses e temos que mostrar nossa cultura”, afirma com sabedoria.
Essa disposição é compartilhada por Dona Roxa, que considera a dança uma diversão, uma arte e uma terapia. “Eu tenho que exercitar o corpo, rodar a saia, balançar a cabeça. Eu me sinto ótima dançando tambor”, diz a coreira, observando que cai doente se passar duas ou três semanas sem dançar ao ritmo dos tambores, e que esquece qualquer dor que venha sentir no corpo quando é convidada para participar de uma festa.
“O meião é que chama o negócio, o tambor grande termina de completar, e o pequeno faz o requebrado. Vai da coreira fazer essa estória.” É Dona Roxa quem explica a função de cada instrumento da parelha para as evoluções e movimentos das dançadeiras no meio das rodas de tocadores e cantadores, enquanto as mulheres aguardam a vez de receber a punga e substituir a companheira. As duas coreiras revelam que chegam a virar a noite acompanhando os tambozeiros, animação que aumenta quando são chamadas para as brincadeiras no interior do estado. Dona Roxa e Dona Gracinha admitem ainda não dispensar uma boa cerveja para manter a animação nas rodas.
Além do Tambor de Crioula, Dona Roxa e Dona Gracinha são caixeiras do Divino Espírito Santo e do Cacuriá de Dona Teté, além de participarem de grupos de Bumba-Meu-Boi. Atualmente, elas realizam oficinas de tambor e caixa no Laborarte, além de se apresentarem com o grupo de Mestre Felipe, da Vila Conceição. A essas atividades, Dona Gracinha complementa com a participação no Tambor de Mestre Leonardo, da Liberdade. Ambas já se apresentaram em diversos locais de todo o país, com muito sucesso na representação da cultura maranhense, tanto através de oficinas dessas manifestações tradicionais, quanto levantando as plateias de outras paragens com as brincadeiras de Bumba-Meu-Boi e Tambor de Crioula.
Apesar de avaliarem que essas tradições se mantêm fortes junto às novas gerações, as duas coreiras acreditam ser necessário haver estímulos para que a juventude preserve a disposição das coreiras experientes, inclusive através de oficinas voltadas às crianças. “As coreiras antigas estão indo, e tem que ter a continuação”, conclui Dona Gracinha.
PALAVRA DO ESPECIALISTA
Tambor de Crioula: patrimônio cultural
“As coreiras fazem parte do Tambor de Crioula, que é reconhecido como patrimônio cultural brasileiro e uma das expressões mais fortes da etnia africana no país. O Maranhão é o estado brasileiro que recebeu o quarto maior contingente de negros vindos da África, e tanto as coreiras quanto os cantadores são uma referência histórica para contar a contribuição dessas raízes na formação cultural maranhense.”. Kátia Bogéa, superintendente do Iphan no Maranhão. Com informações do Imparcial.
Folha de SJB

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