A quilombola e quebradeira de coco da cidade de Penalva, na Baixada Maranhense, Maria Nice Machado Costa, mais conhecida como Dona Nice, foi a única maranhense a ser convidada como palestrante no TEDx Amazônia de 2023, realizado em Manaus, no estado do Amazonas. Entre os participantes estavam a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
O evento discutiu desenvolvimento sustentável e é realizado como parte da preparação para a Conferência do Clima, da ONU. Dona Nice foi convidada para falar sobre sua experiência de resistência como presidente da Associação das Comunidades Negras Rurais e Urbana Quilombola do Estado do Maranhão (ACONERUQ). Ao todo, foram quatro dias de eventos (02 a 05 de novembro), quando participaram mais de quarenta palestrantes e mais de quinhentos participantes, sendo tudo transmitido ao vivo pelo Youtube.
Aos participantes do evento, a penalvense também destacou a luta dos movimentos sociais liderados por quilombolas e indígenas no Maranhão, principalmente na Baixada Maranhense, e denunciou as mortes que têm acontecido na região por questões agrárias. No TEDxAmazônia foi tratado muitos assuntos que representam a vastidão amazônica: Bioeconomia, geração de renda e oportunidades, produção sustentável, povos originários, línguas indígenas, desenvolvimento territorial, ciência e tecnologia, direitos da natureza, tecnologia, combate ao desmatamento, conservação da biodiversidade.
Durante as apresentações, a organização informou que Dona Nice foi vencedora do Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente. “Trago minhas origens para mostrar ao mundo que mulher tem sua visibilidade quando dão espaço para nós. Nós não queremos o espaço do homem, nós queremos o nosso espaço. Trago sempre uma palavra Amazônia. A Amazônia vai salvar o mundo, espere para vê e crê”, declarou a palestrante pelas suas redes sociais, onde as fotos e vídeos podem ser vistos (AQUI)
Dona Nice
Prestes a completar 70 anos, Dona Nice é a principal voz dos movimentos quilombolas da Baixada Maranhense. Eleita vereadora da cidade de Penalva em 2004 e candidata a deputada pelo Coletivo Guarniçê, em 2022, a maranhense trabalha com o coco babaçu desde criança, com sua mãe e as outras mulheres da comunidade. Quebrando cocos desde criança, Nice foi traçando sua trajetória de resistência, a partir dos saberes da territorialidade ouvida de seu pai, Apolônio, de Joana Birgona, sua avó, de Pedro Celestino, seu bisavô, de Sebastiana Ferreira, sua tia, e de Sátiro Costa, seu tio lutador.
São as referências de luta dessa sua ancestralidade negra que fizeram de Nice liderança respeitada na luta pelos direitos territoriais, sociais e ambientais de sua comunidade penalvense do Quilombo Saubeiro, onde ela viveu até os 14 anos de idade. Do Saubeiro, pelas mãos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Nice alçou voo para atuar, em defesa do povo quilombola, em vasta região da Baixada Maranhense, que inclui os campos de babaçu nativo de Viana, Penalva, Monção, Pedro do Rosário, Santa Helena e Cajari.
Fundou, em 1987, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, uma organização que luta pelos direitos das quebradeiras de continuar protegendo a floresta, e que hoje conta com mais de 30 mil membros em todo o país. Desde 2019, responde como Secretária Nacional da Mulher Extrativista no Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). Ela foi reconhecida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) como uma das 100 mulheres que inspiram o mundo, de acordo com informações da organização do evento.
Grande liderança popular. Meus parabens