Professor Marcondes |
Já faz alguns meses, pois remonta ao período antes das últimas eleições municipais, mas vale a pena contar. Voltava da aula de Português ministrada aos alunos do curso de Magistério, uma turma simpática e que me impressionou pela demonstração alegre em aprender, onde iniciamos o estudo sobre os processos de formação de palavras. Morfologia – uma unidade de fundamental importância para aqueles que se inclinam ao aprendizado e deliciam-se com o roçar da língua de Luís de Camões, como fala sério e com ares de brincadeira o meu grande ídolo Caetano Veloso.
Bem próximo ao prédio onde morava, um amigo estava sentado à porta, usufruindo e compondo uma cena bem provinciana, ao lado do pai, adepto ferrenho de um grupo político que se manifestaria publicamente em uma carreata prestes a acontecer. A cidade, que concentra tudo em uma única rua, graças ao seu traçado urbanístico estruturado em uma antiga e tortuosa estrada que dava acesso ao porto da Raposa, aguardava ansiosa para ver. Atendi ao convite feito por meu amigo e sentei-me a seu lado.
Nossa conversa principiou exatamente pelo comentário sobre a brincadeira entre seu pai e o vizinho, adversários políticos que trocam farpas amistosas, na medida em que seus ídolos políticos manipulam seguidores incautos nas algazarras disputas intencionadas em demonstrar força, reunindo motos, carros e uma multidão alucinada que grita, agita bandeiras, provoca a concorrência com gestos ou ofensas diretas relacionadas ao benévolo e por isso mesmo maléfico exercício do poder público que ao longo dos anos tem-se voltado ao empreguismo, nepotismo, clientelismo, banditismo e deixem-me registrar um neologismo falado por um caboclo nosso em praça pública, quando um evento político acontecia: “corruptismo”, para dar efeito redundante aos “ismos” imperantes por este Brasil, “de cabo a rabo”, repetindo o velho e sofrido homem rural.
Os vizinhos amigos provocavam-se em chacotas imperativas: – “Vai preparar teu chá, que meu grupo vem aí, pra mostrar quem é quem”. – “ Entra que tu vais passar vergonha” . -“Vai tirar teu jumento preto da rua pra não atrapalhar e provocar acidentes” -“Não é preciso, deixa ele lá pra parecer que a rua tá cheia de eleitores de vocês” Enquanto os dois brincavam, eu e meu amigo nos divertíamos. O clima ali era de brincadeira, mas, na maioria das vezes a situação é agressiva e as ofensas são duras, propiciando uma acintosa rivalidade capaz de chegar às vias de fato.
Atitudes inconsequentes de pessoas manipuladas que esquecem, não por serem detentores de curta memória, mas por simples e ignorante alienação aos interesses políticos de um ídolo de vento que lhes promete “mundos e fundos”, ainda evidenciando os ditames populares . O foguetório fez-se ouvir. As buzinas dos veículos ajudavam a aumentar a zoada e o corteja aproximava-se numa certa e ansiosa celeridade dos agitados cabeceiras, sorridentes, satisfeitos, puxando a corrente da empolgação que gritava o número e o nome do candidato, fazia o “V” da vitória com os dedos, acenava para os correligionários assistentes postados pelas calçadas à frente de suas casas e dirigiam pilhérias aos adversários desejosos em conferir o contingente e compara-lo ao de seu grupo, promotor de evento similar na noite anterior.
Em cidade pequena, é muito difícil manter o voto secreto. Estamos muito próximos de tudo e essa proximidade nos insere no contexto das manifestações partidárias. Os comentários ou as especulações correm soltas pelas vozes vadias dos ocupados e entregues ao prazer eufórico de estar envolvido e dando “uma puxadinha de saco” que possa servir ao favorecimento que esperam ter se o esperado fervorosamente acontecer.
Enquanto a carreata passa, ouço ofensas diretas, indiretas, deboches, alguns cumprimentos desdenhosos, convites desafiadores, ameaças de desemprego, pragas amaldiçoadoras e fico matutando no quanto a educação precisa ser trabalhada, repensada, melhorada, ampliada, em seus impostos limites qualitativos. Se nosso povo fosse esclarecido, educado, conscientizado, o processo político teria outra conduta, mas os primeiros a não desejarem que isso aconteça são os políticos, pois vivem de manipular os pobres coitados ignorantes de seu próprio valor e importância e que compõem assim (e por quanto tempo ainda comporão?) os cordões de alienados pulando, cantando, gritando, nomes de ídolos de vento.
Folha de SJB
Fizeste uma bela análise, Marcondes. É triste, vergonhoso, lamentável e inadmissível o que acontece por aqui em épocas de campanha. Concordo plenamente com o que afirmas sobre a necessidade de repensarmos a educação. Quem recebe uma boa educação realmente não se submete às baixarias que acontecem em épocas de campanhas eleitorais.
Yolanda.
Bom Dia,parabéns professor pela análise política,temos orgulho de tê-lo como joanino,São João Batista precisa e carece de ser levado mais a sério,peço a deus que dê sabedoria ao Prefeito Amarildo para uma boa administração