No dia 19 de abril de 2025, o Fórum da Juventude de São João Batista completou 20 anos de existência. Na Baixada Maranhense, onde muitas iniciativas pensadas para a juventude mal sobrevivem a um ciclo de gestão (isso quando chegam a existir durante um mandato), o Fórum não apenas sobreviveu: ele desafiou a lógica do abandono institucional que marca as políticas de juventude no Brasil. Mas, mais do que isso, é uma prova viva de que é possível construir políticas públicas com profundidade, permanência e pertencimento, mesmo longe dos centros de decisão. É sobre isso que precisamos falar.

Em 2005, essa história começa a partir da união de grupos de jovens da região, com o apoio institucional do Instituto Formação (FCAEB – Centro de Apoio à Educação Básica) e, posteriormente, do Instituto Baixada (ICBM – Instituto Comunitário Baixada Maranhense). Na época, os fóruns buscavam ser espaços de articulação e produção política da juventude, tendo a Baixada Maranhense como território prioritário de incidência. Mas, entre os 21 municípios do território, o Fórum da Juventude de São João Batista acabou se destacando como uma referência à parte: completou, um mês atrás, 20 anos de existência.
Só o fato de se manter vivo e ativo por duas décadas já seria motivo de comemoração. Mas é preciso ressaltar que, além de existir, o Fórum exerceu e exerce seu papel na inovação, na mobilização, na formação de lideranças e na estruturação de políticas que reverberam em São João Batista há muito tempo e, principalmente, com potencial para continuar indefinidamente.
Duas décadas de resistência e construção coletiva
Ao longo de duas décadas, o Fórum realizou muitos projetos que marcaram a memória coletiva da juventude da cidade, como: a instalação do Telecentro Comunitário, ainda em 2007, promovendo inclusão digital numa época em que o acesso à internet era raríssimo; o nascimento do PJCine Clube, a única sala de cinema da Baixada Maranhense; o CurtFérias, maior evento cultural e esportivo voltado para jovens da região; e o Prêmio Freitas Câmara, que há mais de uma década reconhece e valoriza o protagonismo comunitário.
Sob um viés de atuação transversal e intersetorial, a incidência do Fórum passa pela cultura, comunicação, agroecologia, audiovisual, esportes, educação e articulação política. São exemplos disso os intercâmbios com jovens de outros países da América Latina, os cursos de capacitação profissional, as ações de mobilização territorial contínuas e os encontros com representantes do poder público municipal, estadual e federal. É uma atuação que, além de fomentar práticas culturais e educativas, constrói pontes entre juventude e institucionalidade, entre território e políticas públicas.
Isso é raro? Sim. É. Em um país onde mais de 47 milhões de pessoas, representando 23% da população, são consideradas jovens com idade entre 15 e 29 anos, o investimento em políticas públicas voltadas para esse grupo tem sido historicamente escasso e descontínuo. Em 2021, por exemplo, o Governo Federal destinou apenas R$ 14 milhões para políticas de juventude. Dados do IBGE revelam, ainda, que, em 2022, cerca de 10,9 milhões de jovens brasileiros, ou 22,3% dessa faixa etária, não estudavam nem estavam ocupados. Esses números evidenciam a urgência de refletirmos sobre o que é necessário para sustentar vinte anos de atuação política territorial voltada para a juventude.
O que sustenta uma política viva para juventude
Acredite que, desde muito cedo, o Fórum precisou entender que juventude não é ausência: é potência. O Fórum não nasceu para subjugar os jovens a alguma visão estruturalista de mundo, mas para impulsionar seus próprios projetos de vida, suas vozes e suas demandas. O que se vê ali é a juventude como sujeito de transformação, criadora de soluções e protagonista de sua própria história. Isso contraria a lógica dominante das políticas públicas, que veem o jovem como um problema a ser resolvido e não como parte ativa da resposta.
Some a isso o fato de que política de juventude não se faz com eventos pontuais ou ações desconectadas da realidade local. O Fórum mostra que é no dia a dia, com persistência e com os pés fincados no território que se constroem vínculos, repertório e confiança. Nenhuma política pública de verdade se sustenta sem presença continuada, sem escuta, sem enraizamento. E isso é construído, principalmente, com tempo. E tempo de qualidade é um privilégio que depende, quase sempre, de recursos estruturantes. E aqui é preciso destacar que, se o Fórum se manteve e se mantém vivo por tanto tempo, não é simplesmente porque os governos fizeram a sua parte, mas porque muitos dos seus membros estiveram, e continuam estando, dispostos a doar força de trabalho, tempo, inteligência, recursos, muitas vezes sem qualquer apoio, sem financiamento, sem reconhecimento, movidos unicamente pela convicção de que fazer política no território é uma tarefa necessária e inegociável. Isso, embora seja prova da força e da potência da juventude, também escancara a fragilidade das chamadas políticas de juventude, asseguradas pelo Estatuto da Juventude (Lei 12.852/2013) e sistematicamente tratadas como retórica.
O que deveria ser política pública estruturante e permanentemente financiada vira moeda de troca, barganha eleitoral, quando não simplesmente desaparece dos orçamentos e das prioridades. Por fim, amadurecer a ideia de que as melhores parcerias são aquelas que não anulam a autonomia é essencial. Ao longo de sua trajetória, o Fórum manteve diálogo com diversas instituições: governos municipais, secretarias estaduais, universidades, fundações, mas sem se subordinar a elas. Continuou sendo um espaço da juventude, feito por e para jovens, com governança independente. Também por isso foi capaz de incidir em seu território e influenciar em mudanças reais durante tanto tempo. A criação do Conselho Municipal de Juventude, da Secretaria Municipal de Juventude e a realização da Conferência Municipal da cidade de São João Batista são frutos dessa postura.
Os 20 anos do Fórum da Juventude de São João Batista são um exemplo vivo sobre o que significa construir legitimidade política a partir da base. Reconhecer e apoiar aquilo que já deu certo faz parte da solidificação de metodologias que se provaram transformadoras e que seguem gerando frutos concretos. Fortalecer o Fórum da Juventude não é apenas uma rubrica institucional, é uma estratégia de desenvolvimento territorial, de fortalecimento da democracia, de valorização de uma inteligência coletiva que cria e transforma o território, de maneira eficiente, há duas décadas.
Autonomia de um território potente
O Brasil que decide, financia e prioriza tem muito a aprender com as experiências que brotam de suas margens. É preciso olhar para a Baixada Maranhense e entender que ali não está apenas uma periferia de problemas, mas um território de soluções, práticas enraizadas e saberes acumulados. E, se queremos pensar políticas públicas que durem, que respeitem as juventudes em sua pluralidade e que, de fato, transformem realidades, poderíamos começar a escutando, finalmente, quem já está fazendo isso há 20 anos.
O Instituto Baixada parabeniza o Fórum da Juventude de São João Batista pelos seus 20 anos de existência. E aproveita o ensejo para celebrar, desde já, os próximos, e certos, 20 anos de impacto, reverberações e re-existências.
Bruna Cantanhêde – Superintendente do Instituto Comunitário Baixada Maranhense