Contos de Luciana Brito: a magia do café…

Era todos os dias, de segunda a segunda, de feriado em feriado, não existia nada melhor do que se sentar e tomar um cafezinho enquanto jogávamos conversa fora.
Mal terminávamos de almoçar e eu já me inquietava com a hora que parecia passar devagar. Se passava um minuto, e a mesma pergunta soava repetidamente no ouvido de mamãe, “Que horas são, Mamãe? A gente não vai pra casa de Mainha não?”. Eu e o meu irmão dizíamos ansiosos.

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Lembro-me de que até quando não tínhamos transporte, dávamos um jeito de ir a pés mesmo. Quando chegávamos, Mainha já perguntava como a gente foi para lá, e eu, meu irmão e a minha mãe respondíamos em união, “de pevete!”. Era o jeito que encontrávamos para nos referir ao meio de transporte que era a caminhada. Na maioria das vezes, quando minhas primas demoravam a chegar, eu adentrava na casa de Mainha e procurava as suas bonecas que me encantavam. Mas, o seu instinto era tão bom, que, quando eu começava a brincar com aquelas bonecas, ela já aparecia pra resmungar comigo.

Também não poderia deixar de contar que era sagrado tomar bênçãos a todos os familiares que chegavam por lá, muitas vezes os mais espertos, chegavam mais cedo pra garantir uma cadeira e um copo de café de cada dia, talvez até dois ou três…Quando não tínhamos mais o que fazer, o muro baixo, como um cercado, era a cadeira de nós, baixinhos. Já de tardezinha, a fome batia no pé da barriga de todos os mini humanos, pedíamos dinheiro e conseguíamos de qualquer forma lanchar. Saíamos em direção a lanchonete que era e é até hoje, chamada de Francisco, mas antes tínhamos que perguntar a nossas mães se podíamos ir, ” Mamãe, podemos ir lá no Francisco?” e quase sempre elas deixavam. Íamos contentes até a lanchonete e comprávamos um bocado de besteiras que nem enganavam a nossa fome.

Certa vez, a noite, fiquei tão viciada naquele café de Mainha que tomei mais de 15 copinhos, não sei explicar ao certo, mais ele parecia ser mágico. Agora entendo o porquê de tanta gente parar pra tomar o café naquela casa, naquele canto. A pessoa poderia ser a mais ocupada de toda a Matinha, mas ninguém conseguia resistir em parar, trocar umas conversas e tomar um copo de café. Era cada “figura” que aparecia por lá! Tinham uns que não faltavam um dia sequer. Essas pessoas, às vezes, eram as que alegravam o nosso dia.

Mainha amava tanto Matinha que, quem via até achava que era Matinhense, mas se enganava, quem achava isso, Mainha era Vianense. Mas o seu amor era tão grande pela cidade que ela já fazia parte dessa honrosa história. Além de amar Matinha, Mainha amava que, nós, seus netos, bisnetos e até outras pessoas a chamasse de MAINHA. Ah, as plantas, como ela as amava! Amava tanto, que às vezes esquecia até que tinha que fazer comida para papaizinho. O quintal, tão cheio de plantas, parecia uma aventura na floresta Amazônica… quem brincava por lá, vivia essa aventura.

Acho que descobrir todo esse encanto de pessoa, que era minha bisa, escrevendo, “A magia do café.” Também, acabei descobrindo realmente qual era a magia daquele tão amado copo de café. Era o amor! Quem o tomava, com certeza era feliz. Como uma pessoa que não faltava nem mesmo um dia, posso afirmar isso.

Luciana Brito, estudante da escola Renascer e tem 13 anos

Luciana com a avó e bisavó, já falecida

4 respostas para “Contos de Luciana Brito: a magia do café…”

  1. Lindo Lulu 😍, você captou a alma daquele canto muito bem, e ficou marcado em sua memória e em seu coração. Parabéns 👏👏👏👏 você é incrível 👏👏👏👏

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