Artigo de João Carlos Costa Leite: Lula, um sujeito de sorte…excertos de uma bela saga

“Presentemente, eu posso me considerar um sujeito de sorte

porque apesar de muito moço me sinto são, e salvo, e forte”

Sujeito de Sorte – Belchior João Carlos da Silva Costa Leite *

O genial cantor e compositor cearense Belchior, numa de suas músicas, Sujeito de Sorte, lançada no álbum Alucinação de 1976, traz um contorno de letra significativo e recorrente ao tema que nos propomos escrever. Vivemos tempos nebulosos e agitados. A batalha eleitoral que culminou com a eleição pela terceira vez de Luís Inácio Lula da Silva, do PT – Partido dos Trabalhadores -, Presidente da República Federativa do Brasil, fechou um ciclo político que os estudiosos consideram iniciada em junho de 2013, quando movimentos de insurreição brotaram em vários Estados da Federação.

Atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva

Num curto período de nove anos, encerrados – só para registro cronológico, pois sabemos que a história não tem fim – a 30 de novembro de 2022, com a eleição do presidente Lula no segundo turno, muita coisa aconteceu. Sociólogos, antropólogos, filósofos, linguistas, filólogos, especialistas de comunicação hodiernos, preconizam uma análise mais amiúde dessa época tempestuosa para a humanidade, haja vista, sua capilaridade de proporções planetária. Porém, tudo ainda, em virtude do pequeno espaço temporal, encontra-se em fase embrionária, sem definição ou conceituação exata.

A realidade palpável, é que não só no Brasil, eventos no cenário geopolítico e econômico de nações, foram efetivados. A escalada desses movimentos desencadeou aluviões de circunstâncias ruins ao povo brasileiro: passamos de 8ª economia para 13ª no mundo; tivemos duas reformas, uma trabalhista e outra previdenciária, que como todas as outras, só aumentaram a precariedade aos menos favorecidos; perdemos o status de ter saído do mapa da fome; os salários ficaram defasados; a inflação, desemprego dispararam. O impeachment da presidenta Dilma Rousseff, com a consequente subida ao poder do seu vice Michel Temer; a implacável perseguição de um juiz do Paraná, numa operação chamada de lava a jato a partidos, políticos e empresas que deram suporte aos dois governos do PT, notadamente ao ex-presidente Lula.

O acossamento sistemático, impiedoso a Lula, talvez só igualado ao famoso caso Dreyfus, ocorrido na França no final século XIX, caracterizou, consolidou, com o aval da ONU – Organização das Nações Unidas, o chamado Lawfere, palavra inglesa que traz a combinação dos termos “law” (Lei) e” war” (guerra), definindo de modo sucinto, a expressão, no qual o sistema jurídico é utilizado como parte de uma estratégia contra adversários- ou seja, o uso das leis – como arma política.de opressão e retirada destes do poder. Trouxe nefastos resultados. O mundo pós segunda guerra mundial, havia enterrado, pensávamos que de modo definitivo, a ideologia nazista, comandada por Adolph Hitler, o Führer alemão, e fascista, do italiano Benito Mussolini. Uma inacreditável, improvável aliança entre os Estados Unidos da América – EUA – e Inglaterra, representando o Capitalismo e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,- URSS -, simbolizando o Comunismo, os derrotou.

Conheça o legado do PT que transformou o Nordeste | Partido dos  Trabalhadores
Lula em campanha no Nordeste

A partir do fim do conflito e da criação da ONU,- Organização das Nações Unidas -, a geopolítica apresentou nova realidade : a Guerra Fria, embate entre os EUA e a URSS, em diversas partes do mundo sem que aparecessem nitidamente, apenas dando suporte logístico, bélico, ideológico. O continente europeu viveu um período de crescimento econômico e material, com advento da social democracia – uma clara resposta ao comunismo soviético -, mesmo havendo ditaduras de direita em Portugal e Espanha. Nos EUA, o maior beneficiado da guerra, pois seu território fica distante e incólume a qualquer refrega, a velha índole imperialista permanecia ativa, mantendo os partidos Republicano e Democrata, no revezamento já secular de governo. Na América Latina, as ditaduras militares de direita aparecem nesse período. Golpes de Estado, logicamente com o apoio dos estadunidenses, no Brasil, Colômbia, Argentina, Chile, Paraguai, dentre outros .A exceção foi Cuba, numa orientação socialista, derrubou a ditadura de Fulgencio Batista, quase no quintal da nação mais poderosa da terra.

Todo esse alvoroço, em que pese gerasse choques, alguns perigosos e violentos, seguindo o script da Guerra Fria, jamais ensejou o renascimento da extrema – direita nos moldes do ocorrido após o fim da primeira guerra. A mudança começou, de modo gradativo, ironicamente depois da queda do muro de Berlim, o término da guerra fria, da União Soviética, e o esfacelamento das Repúblicas Comunistas do Leste Europeu. Final do século XX e inicio do XXI, o que aparecera timidamente na França, com Jean Marie Le Pen e Itália com Silvio Berlusconi, agora se espalha pela Europa. Turbinado pelas novas formas de utilizar a comunicação, a internet, sites, facebook, yutube, twiter, etc…operados quase majoritariamente por extremistas de direita, que em apelos misóginos, homofóbicos, racistas, fundamentalistas cristãos, bradavam contra muçulmanos, africanos e latino americanos, que chegavam em grandes levas ao Continente.

O ápice, ocorreu, no nosso entendimento, com as primaveras árabes, ou a tomada de poder na Hungria, Polonia, embates étnicos no Kosovo, Sérvia, Montenegro, se desenrolando. O conturbado mundo da ainda primeva internet, é ocupado por mensageiros extremistas, sob o comando ideológico de Steve Bannon, um pseudointelectual norte americano, nascido em grupos supremacistas brancos. O resultado veio a galope: Donald Trump, um playboy extremista riquíssimo, é eleito pelo partido Republicano, presidente dos EUA. Grupos de extrema direita exultaram. Os supremacistas brancos, a Ku klux klan, dentre outros mercenários, finalmente chegaram ao poder e na mais poderosa nação bélica do mundo. As causas da reativação desses núcleos, após setenta anos, são múltiplas e de difícil compreensão, não cabem aqui. No Brasil, o governo Temer, sucedâneo de Dilma, era incompetente, impopular, mas tinha o apoio da elite empresarial, econômica, militar, além da imprensa hegemônica, o PIG – Partido da Imprensa Golpista-, e blogs que apareciam da noite pro dia, aproveitando a onda cibernética. A plataforma de governo baseava-se em retirada de direitos que a população havia ganho ou mantido nos últimos anos. Para isso preparou duas reformas, a trabalhista e a previdenciária.

Uma política econômica claramente neoliberal, privatizante e meritória as classes do andar de cima, que o havia garantido no impedimento de uma presidenta honesta. Concomitantemente, acirrou-se a mobilização contra membros da esquerda, do PT, através da lava a jato e do ministério público do Paraná, bem como campanha na imprensa inteira contra Lula, sua família, sempre pautada pelos casos do Triplex e do Sitio em Atibaia. Em três de fevereiro, após muita pressão e irregularidades, dona Marisa Leticia, falece de AVC hemorrágico. 2017 foi todo nesse diapasão: direitos sendo dilapidados, defenestrados, reformas contra o povo, Lula e dirigentes do PT implacavelmente perseguido pelo PIG e os políticos de direita. Crescente movimento nas redes sociais e igrejas contra o comunismo,
homossexuais; posturas machistas, misóginas, louvação e advento a narrativas inconstitucionais, que poderíamos sintetizar com uma frase muito divulgada: “bandido bom é bandido morto”. Ano de eleição presidencial, os debates sobre candidaturas estavam expostos e pegando fogo pais afora. Pesquisas eleitorais mostravam desde outubro do ano passado, Luís Inacio da Silva na frente seguido por Jair Messias Bolsonaro.

Lula durante sua posse, ao lado do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica

Em abril de 2018, cumprindo ordem do juiz Sergio Moro, é decretada a prisão de Lula, que após comício lotado de gente na cidade de São Bernardo, se entrega a Policia Federal, sendo levado a Curitiba no Paraná. Esta seria a segunda prisão do então ex presidente. Em l980, curiosamente no mês abril também, ele foi preso durante uma greve no ABC paulista, ficando nas dependências por 31 dias do DOPS – Departamento de Ordem Política e Social – de São Paulo. Detido na sede da Policia Federal em Curitiba, Lula recebe a solidariedade de lideranças políticas, intelectuais, religiosas, internas e externas. Dali faz oposição a Michel Temer e a nefasta campanha de Bolsonaro. Os fatos vão se atropelando no decorrer do ano. Mesmo preso, a candidatura de metalúrgico é mantida, já havia jurisprudência pra isso. Em 31 de agosto por 6 votos a 1, o TSE – Tribunal Superior Eleitoral, rejeita sua candidatura. A escolha do substituto recai sobre Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex- ministro da Educação .Em 06 de setembro, o candidato do PSL – Partido Social Liberal, sofre um atentado a faca na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Os últimos dias que precederam a eleição seguiram um script parecido com uma novela mexicana. Comoção geral na população, instigada pelo PIG e seus braços, demonização da esquerda – que, mais uma vez, não entendeu o processo, e continuava desunida -, não realização de debates entre candidatos, em função do alegado impedimento físico do candidato do PSL; exclusão de debates a temas econômicos, e inclusão de temas pseudo-religiosos, morais e de usos e costumes; disparos em massa de vídeos e mensagens abarrotadas de fake News, em grupos de WhatsApp e outros setores da internet, contra o candidato do PT; uso de palanque eleitoral em igrejas evangélicas; Lula, impedido de dar entrevistas; povo fazendo vigília em frente a sede da PF de Curitiba; A não aceitação pelo TSE da candidatura de Lula, teve como consequência imediata, a subida e estabilização de Bolsonaro ao primeiro lugar das pesquisas.

Em sete de outubro, após o fechamento das urnas, deu-se resultado: em números percentuais Jair Bolsonaro 46,03%, Fernando Haddad 29,28%;.A eleição não fora decidida, teríamos um novo round. A campanha do segundo turno, inicia-se com as fake news agitando o universo cibernético. Ódio, preconceito, contra o PT, Haddad e sua vice, Manuela D’ávila, do PC do – Partido Comunista do Brasil, eram despejados aos borbotões nas ruas, igrejas, famílias, redes sociais, locais de trabalho, comícios, horário eleitoral. Em 28 de outubro, encerrado o pleito, o candidato do PSL, sagra-se presidente do país com 55,13%, o candidato do PT, ficou com 44,87%, tivemos ainda entre brancos, nulos e abstenções, 30,87% de eleitores A partir de primeiro de janeiro de 2019, consolidou-se aquilo que Dante Alighieri propõe na obra Divina Comedia, na sua primeira parte, o Inferno. Dos círculos profundos emergem demônios que eram até então contidos pelo bom senso e pelas leis. Preconceitos, homofobias, misoginias, negação da ciência, machismos, teorias conspiratórias, armamentismo, discursos de ódio, palavrões, fundamentalismo religioso, ataques às instituições ,etc. ocuparam o cotidiano da nação. E aquele povo que demonstrava felicidade, alegria, fraternidade ,tino de justiça, mesmo diante das adversidades, passou a emitir endurecimento, rancor, terraplanismos, perversões, terrorismos. Famílias se digladiavam, líderes religiosos pregando ódio em nome de Deus; loas a ditadura militar, torturadores, ao retorno famigerado AI 5 – Ato Institucional número cinco -, criado em 1968 pelos militares.

Passamos de país amado, a pária internacional, não tínhamos amigos na América Latina, e na Anglo – Saxônica, mantínhamos postura subserviente aos EUA de Donald Trump. Esse cenário também se mostrava igual quanto aos outros continentes. Viramos piada em todos os fundamentos da política. Como, de acordo com o ditado popular, desgraça pouca é bobagem, no final de 2019, o mundo foi atingido por um processo pandêmico chamado Covid 19, que eliminou quase 15 milhões de pessoas. De origem indefinida, essa pandemia pegou a humanidade de surpresa, nos seus propósitos de viver desregradamente. Sem ter remédios ou imunizações possíveis, ela se alastrou celeremente matando e causando tragédias imensuráveis entre as nações. Tornou-se necessário então, uma modificação na concepção e
comportamento de vida. O uso de máscaras, o afastamento e confinamento dos seres humanos era fundamental, enquanto não se encontrasse uma vacina para curar o vírus. No Brasil a primeira morte pelo vírus, ocorreu, segundo o Ministério da Saúde, em 12 de março de 2020, em São Paulo. Esse ano foi todo tomado por  questões relativas à covid. Lula preso, levava multidões em vigília para Curitiba. Enquanto os governos do mundo, seguiam os protocolos da ONU – Organização das Nações Unidas -, propostos pela OMS – Organização Mundial da Saúde -, nosso governante maior seguindo seu herói do momento, Trump, e o “ ideólogo” negacionista Olavo de Carvalho, negava a gravidade da doença, chamando de gripezinha, não usando máscaras, tripudiando sobre as mortes que se acumulavam rapidamente.

Destarte, seus discursos e ações, deixaram um rastro de destruição no país. Tivemos 700 mil mortes por Covid, 11% da população. Com 2,7% de habitantes no mundo, percentualmente morreu muita gente no Brasil, o que só corrobora o descaso governamental. Solto em novembro de 2019, Lula esteve 580 dias preso. Nesse tempo morreram seu irmão Vavá, e o seu neto Artur de apenas sete anos. As agruras que passou, o tornaram bem mais sábio e decidido, segundo informes foram mais de 40 obras lidas, com destaque para biografias. Recebeu milhares de cartas do mundo todo, além de visitas de próceres como Juan Carlos Monedero, fundador do Podemos, partido político espanhol; Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai; Roberto Gualtieri, a época deputado italiano, e hoje prefeito de Roma; Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia; Martin Schulz, líder da Social Democracia Alemã; Massimo D’Alema, ex primeiro ministro italiano, dentre outros estrangeiros e brasileiros, famosos e anônimos. Concomitantemente, o calvário do ex juiz Sérgio Moro, se desenvolvia. Ele que deixara a toga, para assumir Ministério da Justiça de Bolsonaro, é demitido em abril de 2020. Com uma equipe de advogados extremamente competente, comandada pelo casal Waleska e Cristiano Zanin, Lula ia derrubando nas instâncias superiores, uma a uma, as denúncias contra si. Em maio de 2019, explode o escândalo da vaza jato, movimento perpetrado por um hacker paulista, Walter Delgatti Neto, o Vermelho, que conseguiu quebrar sigilos em grupos do telegram, expondo ao mundo as mazelas da lava jato, a cumplicidade, o conluio entre o juiz Sergio Moro e os procuradores da força tarefa de Curitiba, responsável pelas investigações.

Lula em campanha nas eleições de 2022

Primeiramente, veiculado pelo The Intercept Brasil, uma agência de notícias dedicada a responsabilização de políticos e empresários poderosos, em forma de reportagens periódicas, o tema só foi incorporado pela imprensa burguesa – jornalões, sites e programas de televisão dedicados ao grande público – depois de muita pressão nacional e internacional. Os diálogos no telegram mostraram claramente práticas tendenciosas da lava jato, bem como conversas nada republicanas,- pra não ser muito cáustico -, entre juízes e membros do Ministério Público Federal – MPF – O ambiente ficou tão infausto, com as vitorias sucessivas dos advogados de Lula, chegando ao ápice quando o STF – Supremo Tribunal Federal – declarou a parcialidade do ex-juiz Moro, consequentemente, tornando extintas as ações da lava jato contra o ex-presidente. Outros lideres do partido de Lula, também eram inocentados e soltos, mostrando ao Brasil e ao mundo o Lawfere. Inclusive, o Comitê de Direitos Humanos da ONU, em 12 de abril de 2022, julgou a lava jato parcial . A campanha de 2022, foi uma batalha renhida, ao final o nordestino metalúrgico sagra se vencedor de uma disputa onde o chefe do executivo que perdeu, usou de armas legais e ilegais para chegar a um resultado positivo. Felizmente, para o Brasil e o mundo, isso não aconteceu.

O país herdado por Luís Inacio Lula da Silva, em primeiro de janeiro de 2023, estava em frangalhos. A inflação a 5,79%, acima da meta; desemprego 9,3%, Saúde, Educação, direitos do cidadão, em estado lastimoso. Movimentos de defensores do bolsonarismo, usando as mídias sociais pregando insubordinação civil e golpe. .Armamentistas, neofascistas, neonazistas, falsos pastores, etc.., permaneciam estimulando atos insanos. Para poder governar, no crepúsculo do ano legislativo, foi necessário votar um novo orçamento, contemplando aquilo que o Lula havia prometido em campanha, como bolsa família, minha casa minha vida, melhorias na saúde, educação, indústria. Recebido com ceticismo por empresários, FIESP – Federação da Industrias do Estado de São Pulo, a chamada Faria Lima, agronegócio, líderes religiosos/empresários fundamentalistas, CACs -Colecionadores, Atiradores desportivos e Caçadores -, banqueiros, órgãos da imprensa burguesa, e logicamente todos os perdedores da eleição, o terceiro governo Lula, aparecia como apto a sucumbir. Em seis de janeiro ainda sofreu uma tentativa de golpe, protagonizada por militantes, defensores e simpatizantes vândalos do antigo governante, autodenominados patriotas, que invadiram e ocuparam as sedes dos três poderes em Brasília, causando destruição, prejuízo financeiro e pânico. Seis meses de governo, e o panorama está completamente diferente. Todos os fundamentos indicam um país em crescimento, Lula já viajou pra meio mundo, conseguindo retirar o Brasil da incomoda situação de pária internacional e conduzindo- o ao que sempre foi, uma nação pujante, amiga, simpática, alegre, e com predisposição ao desenvolvimento sustentável.

O dólar, a gasolina, os alimentos, a inflação, baixaram. As viagens de Lula a Argentina, EUA, China, Emirados Árabes, Reino Unido, Espanha, Portugal, França, trouxe ao país investimentos na ordem de mais de 110 bilhões de reais. Lula virou pop star internacional, estrela na reunião do G7, e na apresentação da banda Coldplay em Paris, ocasião em que pediu aos jovens presentes que lutassem pela preservação da Amazonia. Seus discursos são aplaudidos por todos aqueles que amam a liberdade, estavam cansados e temerosos do governante anterior. É o Brasil feliz novo! “ Nunca na história deste país”, um slogan foi tão assertivo. Adeus ao terraplanismo, negacionismo, impropérios, palavrões, discursos de ódio, cercadinhos, falácias religiosas, crianças em fotos fazendo sinal de armas, academias de armamentos clandestinos, imprecações, ataques homofóbicos, misóginos, contra negros, obesos, motociatas, desmatamentos, grilagem estimulada pelos órgãos do Estado, invasões de áreas e genocídio indígena, caronas para pastores picaretas em aviões da FAB – Força Aérea Brasileira -, maquiadores e cães de estimação.

Seria então o Paraiso? Obvio, que não. É uma mudança de paradigmas. Impressiona o quanto um dirigente influencia a sociedade para o mal ou para o bem. A realidade é que aquele clima beligerante, opressivo, nebuloso, sem expectativa de futuro, ficou no passado. Agora, é um novo dia,” um novo tempo”, como bem cantou Ivan Lins. Os horizontes são radiantes. Temos um presidente que dar atenção as minorias, aos pobres, negros, jovens, mulheres, deficientes, crianças, idosos; que conversa, dialoga com representantes das nações, independentemente de sua ideologia. Parafraseando Chico Buarque, “ sem falar grosso com a Bolívia, nem fino com os Estados Unidos”. Lula tem intensificado gestões ante órgãos, entidades, nações, visando o reestabelecimento de acordos. Sejam eles bilaterais, ou de organizações intragovernamentais, deixados de lado pelo seu antecessor, seja por incompetência, arroubos autoritários ou fantasias ideológicas. Desse modo, além de provocar um crescimento econômico consistente, com o aumento das exportações, conversas com mais governantes estrangeiros em seis meses que em quatro anos; balança comercial superavitária, diminuição consistente das queimadas na Amazonia, abertura a novas formas de energia, créditos de carbono, aumento considerável do turismo interno e externo. Alavanca a reinserção do país nos BRICS, Mercosul, renegociação de débitos com a ONU, OEA – Organização dos Estados Americanos -, dentre outras ações que fazem o nosso povo sorrir e sonhar com um futuro promissor.

Surpresos, constrangidos, e sem saber o que dizer, diante das melhorias trazidas por Lula, representantes das elites econômicas, pobres de direita, falsos pastores, órgãos da imprensa burguesa, o tal “mercado” e seus apaniguados, que até uma boa parcela votou ou torceu pelo ex metalúrgico, devido a truculência do troglodita eleito em 2018. Não aceitam de forma alguma os avanços, e tentam a todo custo encontrar defeitos no governo de coalizão implementado, espalhando notícias fantasiosas, recauchutadas e pueris contra ele, seus ministros. Sem êxito, nos últimos dias descobriram uma curiosa causa, para o sucesso presidente, ele não é esse excelente gestor, dono de um discurso forte e bem estruturado, capaz de se cercar de pessoas competentes. Dotado de um senso de justiça incomum, com ótimas relações em todas as camadas da sociedade, mas sempre tendo um olhar diferenciado e protetor para as minorias, como mulheres, negros, LGBTQI+, catadores de lixo, etc. Nada disso tem valor, não importa figuras de qualidade como Flávio Dino, Fernando Haddad, Simone Tebet, Marina Silva, Silvio Almeida, Aniele Franco, Celso Amorim, dentre muitos nos ministérios e assessorias, nada disso merece atenção, consideração, méritos. Lula tem é muita sorte, dizem os antes arautos do caos. Tudo isso se deve a imensa sorte que esse retirante de nove dedos, saído de Garanhuns, Pernambuco, num pau de arara. Que sofreu as mazelas da pobre onde a mãe cuidava sozinha de todos os filhos numa pobreza premente e intermitente. Esse homem, sem curso superior, mas com 36 títulos de doutor Honoris Causa, que foi duas vezes presidente do fortíssimo sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista, fundou com intelectuais e exilados pela ditadura, o maior partido de esquerda das Américas, o PT; eleito deputado federal constituinte, que militou ativamente com Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Tancredo Neves, Leonel Brizola, pela redemocratização do Brasil, pelas Diretas Já.

Que foi candidato a presidente da República em 1989, quando o país, após uma longa ditadura militar, teve um pleito direto para o cargo máximo; que perdeu mais duas eleições 94 e 98, eleito em 2002, reeleito 2006, conseguiu eleger e reeleger a primeira presidenta do Brasil. Esse “vagabundo”, como dizem os radicais da extrema direita, que passou duas vezes pelo sofrimento da prisão política, que foi ameaçado, ignorado pela imprensa burguesa, as elites, que saiu da prisão e foi o primeiro e único presidente eleito três vezes. Herdou um país estraçalhado em 2003, devendo o FMI – Fundo Monetário Internacional -,e quando saiu, deixou créditos no tal Fundo. Foi chamado de “o cara”, por Barack Obama, detém o respeito e admiração do mundo democrático, está a altura de figuras internacionais como Mahatma Gandhi, Winston Churchil, Martin Luther King, Nelson Mandela, Fidel Castro Ernesto Chê Guevara Recolocou o Brasil na condição de nação importante da geopolítica mundial, não passa, no conceito desses subalternos do capital, de “ um sujeito de sorte.” É verdadeiro, que pra sobreviver neste país desigual, conseguir deixar um governo com 87% de aceitação popular, mudar o cenário político, econômico interna e externamente desfavorável, caótico, para algo entusiasmante, retirar o real de moeda desmoralizada, para a segunda mais valorizada do mundo em seis meses, precisa ser sortudo, necessita da proteção de Deus, e isto, certamente Lula possui. Infelizmente, até Deus no atual momento está sendo colocado em posições dicotômicas. De um lado os que creem num Deus de amor e misericórdia que se ancora no perdão aos pecadores, num viés neotestamentário, baseado em Cristo e o que nos mostram os quatro evangelhos, atos dos Apóstolos, as epistolas paulinas, o livro de Apocalipse, dentre outros. Do outro, uma visão mais do velho testamento. onde predomina a idealização de que os outros são inimigos e merecem ser extirpados. Defesa de armamentos, intolerância e ódio às minorias, vicejam nesse pensamento. Baseiam- se na lei mosaica, no livro de Levítico – seletivamente -, sendo a favor intransigentemente do nazifascismo.

Lula e cidadãos brasileiros sobem a rampa do Planalto em 2023

Uma rápida digressão, nos mostra um mundo em transformação. A maior nação imperialista, que se consolidou no final do século XIX e início do XX, parece estar no ocaso. Certamente, surgirá um mundo multipolar, contrapondo-se ao hegemônico modelo de então, vigente desde a queda do muro de Berlim. A China cresce a níveis astronômicos, colocando em xeque o surrado chavão, de que o Comunismo não deu certo em nenhum lugar do planeta. Lá habitam um bilhão e meio de pessoas. Outros atores inserem-se nesse contexto. A Rússia e seu líder Vladimir Putin, egresso das fileiras comunistas, mas convertido ao capitalismo de ocasião, agora querem aumentar territórios, usando ou ameaçando com armas de potencial atômico. Lança-se em guerra contra a Ucrania, antigamente uma República Soviética, e que hoje, com o apoio da União Europeia, a OTAN – Organização do Tratado do Atlantico Norte -, braço armado do ocidente, os EUA, se mostra um real
perigo aos russos. Some-se a isto o crescimento econômico, devido ao petróleo – que continua sendo a principal matriz energética -, de países, do Oriente Médio, Emirados Árabes, Irã, Catar, Arabia Saudita; além da Índia e Turquia, que está na fronteira da Europa. Bem como na América Latina, países chave de língua não saxônica, como México, Venezuela, Chile, Colômbia, Cuba, Argentina, que têm governos não alinhados aos interesses estadunidenses. O Brasil, dirigido pelo pragmático e sortudo, segundo a imprensa hegemônica, Lula, tenta se equilibrar, demonstrando técnica, experiência, jogo de cintura, de quem já foi duas vezes presidente da República , negociando a todo instante, opondo-se em interesses contrários aos do Brasil e seus aliados do chamado Sul Global, um termo novo, inserido no vocabulário político, para os países em desenvolvimento.

O sentimento da sociedade que era negativo desde a eleição do inominável, agora é de euforia. Os índices apresentados de emprego, déficit público, negociação num legislativo mais à direita, inclusive, com um número muito grande de parlamentares da extrema direita fundamentalista, militarizada e do agronegócios, trazem quadro positivo e de PIB – Produto Interno Bruto -, acima, bem acima, do esperado. As aprovações do Arcabouço Fiscal, do novo CARF – Conselho de Administração  de Recursos Fiscais -, Reforma Tributária – que há trinta anos estava emperrada-, novos ministérios, novas modalidades de melhorias a todos os segmentos da sociedade, passos sendo dados para a transição ecológica, o achado de um novo pré sal, carregam ventos de alento e esperança para nós, mesmo com bastante dúvidas e temores. Os principais personagens deste momento histórico, estão no nosso meio, sentindo o movimento da terra redonda: Jair Bolsonaro, após votar pelo impeachment de Dilma, evocando o nome de um torturador, conseguiu chegar a presidência do pais e montar um governo maluco, negacionista, golpista, agora está inelegível a 2030 e responde a vários processos. O MBL – Movimento Brasil Livre -, núcleo de direita que levou jovens a rua, elegeu alguns dos seus membros a deputados, e outros já até perderam o cargo. Sergio Moro e Deltan Dallagnol, deixaram as funções, elegeram-se senador e deputado federal pelo estado do Paraná. Deltan foi cassado pelo TSE- Tribunal Superior Eleitoral -, e o Moro responde uma denúncia, que pode levá-lo ao mesmo caminho. O advogado de Lula, Cristiano Zanin, tantas vezes, ameaçado pela turma de Curitiba, e que conseguiu anular os processos do seu cliente, levando o juiz do caso a ser considerado parcial, foi escolhido, – ah destino irônico -, ministro do STF, e poderá julgar eventuais processos do atual senador.

A ex presidenta Dilma, após sofrer o impeachment indevido, tentou ser senadora por Minas Gerais, não logrou êxito. Foi escolhida como presidenta do
banco dos BRICS, e mora hoje em Xangai, na China. Lula, de quem um pequeno texto como este, não conseguiria falar tudo sobre sua trajetória vitoriosa aqui e além mar, Continua seguindo sua sina. Casou-se com Rosangela Lula da Silva, a Janja, aos 77 anos de idade, está no seu terceiro mandato, já preparado para um quarto. Curtido pelo sofrimento da prisão e da oportunidade de poder aprender, está entre as 100 pessoas mais importantes do mundo, segundo a revista Time. O planeta é hoje completamente diferente de vinte anos atras, quando Lula se elegeu pela primeira vez. Os desafios, as estruturas, ambiente são outros, a forma de conte-los ou vencê-los é também outra. Tal qual a Fênix da fábula, nosso amado presidente maravilhosamente renasce, e olhando novos horizontes, possibilidades, acessos, não considerando a avançada idade, luta feito um gigante, pra que nossa nação chegue a sua plenitude de progresso, felicidade que tanto merece e precisa. Somos todos no Brasil e no mundo, contagiados por esse otimismo generalizado. Apenas a imprensa burguesa, que apoiou desde 1937, a “intentona comunista”, continua, em seu discurso monocórdio, monótono, a dizer que os avanços, não são por mérito. Lula é apenas e simplesmente, um sujeito sorte.

Uma outra estrofe da bela canção de Belchior, Sujeito de Sorte, traz um trecho, que talvez pela notória sensibilidade filosófica do autor, carrega forte mensagem da mãe de todas as ciências : “ Tenho sangrado demais/ tenho chorado pra cachorro/ano passado eu morri/mas este ano eu não morro” Quase autoexplicativo, mostra sinteticamente, numa linguagem bem nordestina, a trajetória desta liderança que tanto nos orgulha: Lula está vivo, apesar de tudo que passou, e continuará sempre ao lado do povo

Post – Scriptum – Queremos homenagear algumas companheiras e companheiros, que lutaram e amaram ao Lula, e que hoje não estão no nosso meio:

  1.  Adiel Tito de Figueiredo – Pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, Professor da UFMA;
  2. Raimunda Barros Mendonça – “Raimunda Barros do Cajá“; Sindicalista;
  3. Messias Costa Neto – “ Dr Messias” – Médico e prefeito de Viana;
  4. Edmilson Gonçalo Trindade Moraes – “ Edmilson da Preguiça”, Sindicalista;
  5. João Cutrim – “João de Izaque” Sindicalista;
  6. João Teixeira Meireles – “ João Vitor” – Sindicalista;
  7. Joana Francisca Gama Meireles – “Francisquinha” – Militante;
  8. Maria José da Silva Costa Leite – “Maria de Lola – Minha mãe;
  9. Maria de Lourdes Gonçalves Ferreira – “De Lourdes”- Professora, Militante, Sindicalista

Deus os levou em datas diferentes, para junto de Si. Porém, se existem lembranças no descanso eterno, tenho certeza que estão tão felizes quanto nós.

João Carlos da Silva Costa Leite, nascido em Matinha, bancário aposentado, cursou Filosofia na UFMA. É membro do FDBM -, Fórum em Defesa da Baixada Maranhense e da AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras, ocupando a cadeira 17, patroneada por Maria José da Silva Costa Leite.

3 respostas para “Artigo de João Carlos Costa Leite: Lula, um sujeito de sorte…excertos de uma bela saga”

  1. Conversa fiada! Pura balela!
    Todos sabemos que o molusco só foi alçado à presidência, porque as urnas foram fraldadas e, pela atuação da cúpula do judiciário, que é formada pela militância canalhocrata de comunistas!
    Quantos aos sindicalistas mortos e “exortadados” no texto, faziam parte da excrescência da política praticada nesse estado, que parece que parou no tempo!
    O autor gastou pena atoa!
    No último censo, dos 40 municípios mais pobres do Brasil 38 ficam no MA. O povo do estado tem se ligar para isso!

  2. Eu imagino que o autor não está afixado na realidade. Primeiro pelo vocabulário usado (um mix de arcaico com erudito, que poderia ser muito bem simplificado) segundo pelo tamanho do texto (foi um duro trabalho ler, e olha que sou adepto), e por fim, só cego não viu o que a esquerda fez durantes esses tempos no Brasil e na América Latina. Balela, como disse o leitor acima! As vezes tenho a impressão que tal autor faz esses textos tão somente para ele mesmo ler.

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