Familiares e amigos comemoram 100 anos de Dona Dadá, uma das primeiras parteiras de São João Batista

Quem comemora hoje (13) seus 100 anos de vida é a parteira Eugênia Mendes Câmara, conhecida por todos os moradores da cidade de São João Batista, na Baixada Maranhense, como Dona Dadá. Ela foi a responsável por fazer o parte de centenas de moradores do município, antigamente, e é uma das grandes personalidades da cidade.

Dadá Parteira completa hoje 100 anos de vida

A voz do vídeo é um poema de um dos seus filhos, o subprocurador do Maranhão, Jomar Câmara. Abaixo, um pequeno resumo de sua biografia, feita pela sua filha, Sônia Maria Câmara.

Biografia

Eugênia Mendes Câmara, carinhosamente chamada Dadá, nasceu no dia 13 de novembro de 1922, no povoado Enseada dos Bezerros, São João Batista –MA. A segunda dos sete filhos de Raimunda Mendes, relacionados a seguir: Maria de Lourdes (Lulu), Eugênia (Dadá), Levi, Belísia (Belinha), Julião, Miriam e José Manoel. Dadá passou parte da sua infância, no povoado, onde nasceu, com sua mãe Raimunda e sua avó Cândida que era o referencial familiar para os seus netos.

Sua origem humilde não foi obstáculo para tentativas de uma vida melhor. Queria estudar, mas não era possível porque não havia escolas naquele lugar e, estudar era privilégio dos homens, uma vez que, as mulheres eram educadas para ser donas de casa, deveriam aprender cuidar dos filhos e do marido. Aos 7 anos, veio para São Luís, onde morou com sua tia e madrinha, Ângela Araújo, no bairro Sítio do Meio, sendo matriculada na Escola Modelo Benedito Leite, cursando até a 4ª série do antigo ensino primário, mas adquiriu um vasto conhecimento do mundo, sua universidade foi a própria vida.

Aos 21 anos conheceu o jovem João Câmara no bairro Diamante, encontrando-o normalmente. No entanto, aquele jovem vindo de São Vicente Férrer, município da Baixada maranhense, com o objetivo de prestar contas com o serviço militar, procurou se informar sobre o endereço daquela senhorita para enviar-lhe uma carta, pedindo- a em namoro, pois o seu futuro marido era um homem de tradicional família de São Vicente Férrer, a família Marques Câmara, vinda da Ilha da Madeira – Portugal, a qual teve um ancestral que por determinação da coroa portuguesa fixou-se no município de Peri-Mirim – MA.

Após um ano de namoro, Dadá casa-se com João Câmara e desse casamento nasceram dez filhos: Carlos Alberto, Sônia, Edna, Dalva, João, Flor de Maria (In Memoriam), Apolinária, Jomar, Anilde e Váldima. Supermãe, além de seus dez filhos, adotou outras crianças educando-as sem fazer distinção entre elas e os seus filhos biológicos. Sempre preocupada com a educação dos filhos, foi capaz de desempenhar com muita sabedoria os papéis de mãe, professora e às vezes, psicóloga, tendo como base os princípios da ética e da honestidade: valores imprescindíveis para a boa formação do ser humano.

Em 1956, mudou-se, com toda família, para um povoado em São Vicente Férrer, lugar onde seu esposo nasceu, permanecendo lá por quatro anos. No início de 1960, a fim de que seus filhos pudessem estudar, resolveu fixar residência em São João Batista. Logo que chegou no município a primeira providência a ser tomada foi sair em busca de escolas para matricular seus filhos. Mas conseguiu organizar, em sua própria casa, uma escolinha com duas salas de aula multisseriadas, contando com a ajuda de um representante político, partido PTB, o Sr. Procópio Meireles, que remunerava duas professoras alfabetizadoras: Violeta Meireles e Maria Souza Coelho. A escola foi denominada de Escola Trabalhista Brasileira.

Em São João Batista desenvolveu várias atividades tais como: professora alfabetizadora, costureira e parteira, mas a sua maior dedicação, durante vinte anos (1960-1980), foi o trabalho de parteira. Este trabalho tornou-se tão intenso que era necessário sair de casa às altas horas da noite, transportada em canoas ou a cavalos, meios de transporte da época, para prestar atendimento a mulheres em povoados distantes. Prestava, também, atendimento, em sua própria residência às gestantes que iam verificar a posição do bebê na barriga, bem como, receber orientações acerca da gravidez e o parto.

A fim de uma melhor qualificação para o trabalho, Dadá fez um estágio na maternidade Benedito Leite, em São Luís, no final do anos 60. Em São João Batista, conquistou a amizade da população e das autoridades locais, nutrindo com todos um bom relacionamento. Mulher religiosa e que movida pela fé, construiu com a ajuda de três amigos, uma igreja católica – Igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro Paulo VI, existente ainda hoje.

Seu retorno a São Luís concretizou-se em 1980, residindo no Conjunto Vinhais até os dias atuais, sendo visitada diariamente por pessoas amigas e conterrâneos. Aos 100 anos, ainda lúcida e com tanta experiência de vida é capaz de orientar seus filhos, netos e bisnetos. Faz tudo o que é possível para manter a família sempre unida, comemorando aniversários e outras datas festivas com almoços e jantares. Com grande satisfação repete em suas conversas diárias…tenho dez filhos, vinte netos e dezesseis bisnetos! Mulher extrovertida, de temperamento assumidamente forte, determinada, mas generosa.

Sente-se feliz e abençoada por Deus por ter criado os seus dez filhos, orientando-os a fim de que alcançassem seus próprios voos uma sensação de dever cumprido! Sua imagem engrandece seus familiares, seu exemplo de vida dignifica seus filhos e suas futuras gerações!

VIVA DONA DADÁ!!!

4 respostas para “Familiares e amigos comemoram 100 anos de Dona Dadá, uma das primeiras parteiras de São João Batista”

  1. Há sessenta anos eu chegava a este torrão pelas mãos dessa mulher guerreira. Sou um sortudo. Salve, mãe Dadá.

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