Qual a definição de tempo? Artigo de João Carlos Costa Leite levanta versões sobre o conceito enigmático e fascinante da palavra

Qual a definição de tempo? O genial baiano Caetano Veloso, nomeia – o na canção “ Oração ao tempo” com duas frases lapidares: “ És um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho” e “ Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos”. Um conceito de difícil designação e conciliação, o tempo é junto com a vida, a maior preocupação humana. Na verdade, são irmãos siameses, evocam princípios, contornos, movimentos, que misturam aspectos religiosos, filosóficos, sociológicos, culturais, científicos, imanentes a nossa natureza e história.

Qual a definição de tempo?

Remontando ao nascedouro da filosofia, ou desde o espanto, quando o ser dotado de razão, se reconheceu no mundo, a concepção de tempo frequenta nosso cotidiano. Por ser abstrato, imaterial, seu entendimento é hermético, enigmático, e de impossível compreensão holística. Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, via como fator de transformação da realidade. Para Sócrates, tempo e verdade são válidos perpetuamente e em todos os lugares. Para Platão, “ É a imagem móvel da Eternidade. Aristóteles, sintetiza seu pensamento, na complexidade da explicação em frase a ele atribuída : “ Quando não mo perguntam, eu o sei; quando mo perguntam, não o sei”.

Santo Agostinho, põe o ingrediente cristão numa temática até então sem esse viés. E desenha uma das mais belas e atuais páginas, embora tenha vivido no século IV da era Cristã : o tempo nos é inapreensível, imperceptível e imensurável. Em Hegel, o processo histórico compõe na sua trajetória uma percepção intrínseca de tempo.
A religião judaico – cristã, exprime uma concepção de Deus – Jeová ou Javé – como alpha e ômega, palavras gregas que significam, a primeira início, começo; a segunda, fim. Na sua onisciência, onipotência, onipresença, Deus é tudo. Nada sobrevive ou acontece sem seu mover santo, eterno, etéreo.

A Bíblia, nossa regra de fé e prática, mostra o tempo de forma01 linear, sob a autoridade e poderio de Deus ou da Santíssima Trindade, seu principal objetivo é garantir o deleite e a satisfação daquele que é a obra prima da criação desde a origem do tempos, o ser humano. Destarte, principia com o livro de Genesis, a criação; e encerra-se em Apocalipse, o final. E o tempo é o fio condutor. Na literatura, cinema, desenvolve-se em obras de ficção cientifica dimensionando, expandindo, concebendo, interpretando a partir de Julio Verne, passando por H. G Wells, George Lucas, Gene Rodenberry, dentre outros, cativando, emocionando, fascinando mentes e almas, geração após geração.

A ciência, em suas diversas áreas do conhecimento, ocupa-se do tempo com particularidades relativas a cada uma delas, não necessariamente coincidentes, ou de verdades absolutas. As dúvidas, divergências, contradições, espalham-se em teses, antíteses, sínteses, num eterno ir e vir, conjugado a inovações que algumas mentes sequer conseguem absorver. Só para exemplificar, poderíamos citar as teorias, em sua imensa maioria não comprovadas, inúmeras vezes confundidas com ficção: o big bang, anos luz, universos paralelos, buracos negros, buracos de minhoca, dobras espaciais, etc..

A humanidade é escrava do tempo. Tudo que fazemos, pensamos, está sob o domínio, dos nanossegundos, segundos, minutos, horas, dias, séculos, milênios. Nenhuma atividade hodierna está fora desse evento denominado tempo. Ironicamente, nós ocidentais, sem refletir, entender, temos um deus grego, pré – helênico, como representação, símbolo desta era, Cronos. O deus do tempo. Rimos, choramos, brigamos, trabalhamos, matamos, morremos, rezamos etc. sob os auspícios do relógio, da cronologia . Uma verdadeira ditadura temporal.

O capitalismo, até inventou um mote, que nós vassalos dos 1% que realmente mandam no mundo, repetimos à exaustão : ‘ Time is money’, cuja tradução seria,” tempo é dinheiro”. A simbiose entre a notória ambição humana e o tempo, é consagrada e vitoriosa, pelo menos no que diz respeito ao principio maior dos detentores do capital, o acúmulo e a concentração de renda – money -. Ficam então indagações, com relação direta ao tema, haja vista que o conceito de tempo, como conhecemos, perpassa obrigatoriamente pelo passado, presente, futuro: Existe esperança no futuro? Que exemplos do passado poderemos trazer para melhorar a nossa vida? O presente que temos é adequado ?

No livro de Salmos, capitulo 90, denominado em algumas traduções como “ A eternidade de Deus e a transitoriedade do homem”, escrito pelo patriarca Moisés, curiosamente um homem que viveu bastante e segundo relato bíblico não conheceu a morte, nos mostra em seu versículo 10 uma intrigante constatação: viver é bom, mas em extensa duração, por muito tempo, se torna em canseira e enfado. Estaria a humanidade neste estágio cronológico, agastada desse longo período sobre a terra que destruiu a possibilidade de sermos uma sociedade com valores humanistas e solidários?

Estaríamos vivendo o crepúsculo da aventura humana neste “ponto pálido azul”, como foi chamado o planeta ao ser fotografado pela sonda Voyager I a trinta anos atrás, e seis milhões de quilômetros de distância? Só o tempo, sempre e apenas ele, literalmente, tem essa resposta.

João Carlos da Silva Costa Leite, nascido em Matinha, bancário aposentado , estudante do curso de Filosofia da UFMA. Membro fundador da AMCAL , Academia Matinhense de Ciências , Artes e Letras onde ocupa a cadeira 17.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *