Quilombola de 27 anos natural de São Vicente Ferrer é aprovado em medicina na Universidade Federal do Pará

O estudante Valdenir Pereira Morais, de 27 anos, pertence a comunidade quilombola de Ilha São José povoado Madureira foi aprovado no curso de medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA). Foram anos de tentativas e espera até a aprovação. O vestibulando foi buscar longe a realização do seu sonho, e mesmo sem dinheiro chegou a viajar para o estado do Rio Grande do Sul (RS) para participar de seletivos do curso de medicina. Dentre tantas tentativas obteve êxito e sucesso.

Jovem de São Vicente conseguiu bolsa no Pará para realizar seu sonho

Valdenir iniciou seus estudos no povoado onde nasceu na Escola Boa Esperança, o qual lembra com carinho e respeito de seus professores, em especial a senhora Marinete Alves Moraes, e logo depois para ensino médio no CE Dr. José Arouche, o qual lembra com carinho das professoras: Ana Rosa Arouche, Glorilene Sales, Maria Ferreira e Helida Duarte pelos incentivos e acolhimento. Driblando estatísticas negativas e vencendo barreiras o jovem preto, quilombola, pobre e egresso de escola pública irá se organizar financeiramente para iniciar o curso longe de casa na cidade de Altamira no Pará (PA), onde não conhece ninguém e relembra com orgulho a sua difícil trajetória.

“Tive uma infância difícil. Sou filho de pais separados e fui criado na roça com muito amor por meus avós maternos, o que não impediu que eu passasse por episódios de violência doméstica, abuso sexual infantil, racismo e bullying na escola. Meu acesso à escola era dificultado por morar longe da escola e não contar com transporte escolar, tinha que andar mais de 5 km no sol ou na chuva. Contudo, sempre fui um aluno dedicado e responsável”, comentou.

O jovem fala que ao final do Ensino Médio, experimentou o êxodo rural, foi morar na periferia da capital São Luís, onde conheceu o racismo estrutural e institucional, com o qual conviveu, além da violência policial e de gangues que fizeram temer uma morte precoce em meio a tanta confusão. Ele fala sobre a importância das ações afirmativas na busca por seu objetivo em outro estado.

“Percebi que muitas vezes meritocracia não passa de mera falácia. Sempre me faltaram oportunidades, então tive que construí-las em meio a falta de recursos. E sabia que tudo que eu queria só seria possível através da educação. Por isso, comecei a ficar atento a vestibulares Brasil a fora, principalmente aos que ofereciam ações afirmativas e mais equidade na seleção, como foi o caso do Processo Seletivo Indígenas e Quilombolas da UFPA. Logo, a política de cotas me permitiu um pouco mais de igualdade de oportunidades – As cotas são um direito e precisamos ocupar esses espaços, sendo: médicos, agrônomos, advogados, enfermeiros, professores etc”.

“Meu sonho de fazer Medicina vem da infância e ficou ainda mais forte na juventude, quando passei a acompanhar os meus avós que necessitavam de atendimento médico. A demora e a falta de acesso aos profissionais me frustravam e ainda me frustra. Então, decidi que eu teria que ser médico para fazer a minha parte e ajudar quem precisa. Claro o fator econômico nesta altura do campeonato pesa muito, pois preciso mudar a realidade da minha família”, afirmou.

Já com cara de médico, Valdenir conta que, após formado, pretende retornar para São Vicente Férrer e junto de sua comunidade atuar como cirurgião geral e levar um atendimento digno e humanizado aos que precisarem, especialmente a população negra, quilombola e pobre de seu estado. “Mas enquanto esse dia não chega, na universidade pretendo me envolver em projetos de pesquisa e ações comunitárias de povos tradicionais, quero aprender mais sobre as doenças que afetam a população negra e campesina”.

O mais novo calouro da Baixada Maranhense pretende ajudar a colocar mais jovens na universidade, especialmente aos pertencentes a sua classe social e grupo étnico, e, para isso, pretende criar uma instituição de fomento educacional para vestibulares. Texto: professor Cerlan Nunes.

Valdenir e seus avós, em São Vicente Ferrer

6 respostas para “Quilombola de 27 anos natural de São Vicente Ferrer é aprovado em medicina na Universidade Federal do Pará”

  1. Fico imensamente feliz pela conquista e com certeza mais vitórias virão.
    Sucesso nessa nova caminhada Valdenir.
    Parabéns

  2. Valdenir sempre acreditei no seu potencial. Muito feliz por sua conquista.. Você vai longe meu querido…
    E obrigada por lembrar de mim.

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