Artigo de João Carlos: Meia ponto zero, lapsos de uma existência…

MEIA PONTO ZERO
Lapsos de uma existência. “Só eu sei os desertos que atravessei” – Djavan, Esquinas.
João Carlos da Silva Costa Leite*

Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, pessoas com sessenta anos ou mais, representam 28 milhões de brasileiros. Ainda de acordo com o mesmo instituto, a tendência é que essa cifra dobre proximamente. No dia 15 de dezembro do ano corrente, adentrarei a este seleto grupo, serão 720 meses, .21.915 dias, 31.557.600 minutos, e 1.893.456.000 segundos. Desde aquela longínqua sexta feira em 1961, muitas coisas aconteceram, são pedaços, fragmentos, células, átomos, de uma história, que deixaram profundas e intensas marcas. Do alto dos números alcançados, procuro rememorar com base um pouco no que diz a Palavra Sagrada em Lamentações capítulo 3 versículos de 21 a 24; experiências vividas, para deleite d’alma, ou mesmo no registro fugaz de um alvo, que só uma minoria de humanos consegue atingir.

João Costa Leite e sua família

Não fossem as dores, doenças, debilitações do corpo, e principalmente o olhar das pessoas ao derredor, diria que o tempo não passou. A mente continua ativa e atuante, lembrando um pouco a teoria do filosofo francês René Descartes Sessenta anos de v ida, meio século e dez anos. Se grego fosse, evocaria a deusa Mnemosyne, pois as reminiscências aglomeram, avolumam; lições, repreensões, alegrias, tristezas, arrependimentos, desejo de repetir, perpassam, atravessam, as retinas já debilitadas pela diabetes e catarata. Quando nasci, papai que era de 1918, Mamãe de 1926, estavam em idades avançadas. Ele 43, um homem maduro; ela 35 anos, balzaquiana. Após minha chegada, a fábrica foi fechada. Como dizem na Baixada, fui “ o ponta de rama”, caçula dos dois. Juvêncio Costa Leite, cognominado Capijuba, sossegara o facho, após uma juventude intensamente namoradeira, com um saldo de dois casamentos – sua primeira esposa faleceu de parto -, muitos romances entre um e outro, e sete filhos oficiais – Lauro, Tarcísio, (Cici), Dionísia, (Dudu), falecida aos nove anos, quando já morava com mamãe; da primeira esposa Estefânia Meireles .

Luís Augusto, Juvêncio Filho, o Juvencinho, ou Mano, como o chamávamos, morto aos dezesseis anos, Sebastião (Palá), e eu-, resultantes do seu enlace matrimonial com Maria Jose da Silva Costa Leite. Maria José da Silva Costa Leite, apelidada “Maria de Lola”, (cognome que adorava), ou Maria de Juvêncio, (que detestava), já se casara aos vinte e seis anos, idade considerada serôdia, uma “chibarra”, conforme o linguajar popular. Teve quatro filhos com papai , todos do sexo masculino. A frustração em nunca engravidar de uma menina, desejo acalentado desde a adolescência, foi suprida em 1976, com a adoção de Ana Elizabete, nossa irmã caçula. Nome que ela escolhera muitos anos antes, homenageando a rainha da Inglaterra, e que era substituído, adiado, a cada gestação masculina que se confirmava Desfrutei uma infância parecida com a de muitos contemporâneos, simples, pobre, porém feliz .Tomei banho nos igarapés da Água Comprida, Gongo e de Zezé Veloso; pesquei de lata e cofo na baixa de Grisosto; peguei jeju e traira na baixa que nascia no poço velho, sequei poça – para apanhar piabas e jandiás – nos riachos onde hoje é o bairro novo, no igarapé de João Pinto; joguei castanha, bolinha de vidro, pião de coco babaçu, chucho, china; brinquei de preto fugido.

Cheguei a conviver com minha avó por lado de mãe, Rita Dolores Amaral Silva, a vovó Lola. O avô materno, Sebastião Justino da Silva, faleceu antes do meu nascimento. Por parte de pai não conheci os são-bentuenses Luís Pereira e Augusta Costa Leite. Uma curiosidade da origem são – bentuense: Eram doze irmãos, frutos do relacionamento entre vovô Luís, branco, quase sarará, segundo meu primo Zito; e vovó Augusta, uma bela negra. Não houve um casamento no papel entre os dois. Desse modo, os descendentes receberam ao serem registrados, o sobrenome Pereira, pertencente a vovô, exceto Juvêncio. Num erro talvez do cartório, foi inscrito, graças a Deus, com o sobrenome Costa Leite, da afrodescendente Augusta. Sobrenome carregado de conotações preconceituosas nos municípios de São Bento, Peri Mirim, Pinheiro. Dizem existir dois ramos dessa grei, brancos e negros. Diante disso, há uma disputa, quase uma guerra, na comunidade sobre o pertencimento a elas, ainda engano, por ter esta epiderme enxambuada, os olhos esverdeados, parecendo branco, quando na realidade, minha ascendência de sangue, é negra. Acredito como dádiva divina, ser considerado filho de duas mães, a biológica, Maria de Lola, e a adotiva, (embora mamãe não aceitasse isso), Ana Rita Amaral da Silva, a quem chamava de Tchem. Tchem concebeu um filho, Carlos Augusto, fruto de sua estada em Teresina, para cursar enfermagem, seu apego a mim tem uma razão bem interessante. Além de exercer a profissão dando consultas, fazendo curativos, também praticava partos. Avalio que realizou mais de dez mil durante a vida.

Munícipes hoje com menos de 70 e mais de 40 anos, foram em sua imensa maioria, trazidos ao mundo por suas abençoadas mãos. Quando mamãe engravidou, num dos muitos exames que fazia a mulheres na cidade, detectou que a minha posição não era normal na barriga. Transformando aquele estado, conjuntamente a idade de 35 anos, numa gravidez de risco. No decorrer do parto, precisou quebrar minha clavícula para preservar as duas vidas envolvidas. Tal ato deixou-me com um defeito físico no braço direito, uma atrofia obstétrica, na linguagem médica. O episódio imagino, causou-lhe remorsos, e cultivou grande carinho por mim, quando papai contraiu varíola ( alastrim), sendo eu pequeno, acredito que quatro anos, aproveitou, alegando perigo, – essa doença é muito contagiosa – levou -me para morar com ela e vovó Lola. Um pouco antes, aos dois anos, mamãe contraiu início de tuberculose, originada da sua condição de fumante passiva, papai usou cigarro molheiro ou de palha, até o fim da vida. Este incidente nos separou durante alguns meses, e fiquei sob os cuidados de Luís Augusto, meu irmão mais velho.

As reminiscências mais antigas remontam a idade de quatro, cinco anos, algumas saem do cérebro enevoadas, embaralhadas, não deixando clareza se realmente foram vividas ou são induzidas por informações dadas através de mamãe, papai, Tchem, ou quaisquer outros parentes no decurso da vida, e que acabaram sendo apropriadas, como se de fato ocorridas. Poderia traduzir, resumir, numa ínfima mostra, os primeiros anos de vida através das percepções que alguns eventos trouxeram : sensações de alegria, meu primeiro brinquedo. Um carro de fórmula 1, dado por Carlinho, meu primo e irmão; regozijo, depois um jogo de botões, do time do flamengo; ter ido assistir televisão pela primeira vez, na praça Raimundo Penha, a praça da igreja; prazer desmedido; andar no caminhão de Juca Amaral, numa rápida ida ao Bom Jesus, tomar garapa no engenho de Costinha, pescar de anzol com papai; banhar no igarapé da Água Comprida, comer bacuri debaixo dos bacurizeiros no quintal de Dezinho, meu tio; sair com Tchem para visitar amigos dela; terror, ter tomado uma chuva sozinho, num poção a espera de papai e outras pessoas que foram deixar uma carga de mandioca na casa de forno de Raimundo Canela, no caminho do fio, e demoraram por causa do toró; crises de febres de impaludismo; Tristeza, a morte de Roberval, a morte de Juvencinho meu irmão.

A primeira professora foi dona Zeíla, esposa de Zé Antônio da Espanha. Ia pra casa dela puxado pelo braço de papai ou mamãe toda manhã. No primeiro dia de aula, fez um pedido que não consegui entender inicialmente o porquê, só compreendendo anos depois. Disse: “ ele é canhoto, mas não será necessário mudar”, era comum professoras leigas, que acredito não ser o caso de dona Zeíla, obrigarem seus alunos não destros, a escreverem com a mão direita, normalmente ajudadas por palmatórias e cascudos. O ensino formal foi no Jardim de Infância Topo Gigio, novidade trazida a cidade por Padre Guido Palmas, um religioso italiano que viera morar em Matinha na década de 60. Nunca procurei saber a razão desse nome, uma vez que Topo Gigio era um personagem bem conhecido das tvs. Acredito que a experiencia de instalação de um Jardim de Infância foi uma iniciativa inédita na região. Poderia traçar diversas linhas para referir-me da jornada a qual propus contar e rememorar. Traçarei paralelos com temáticas que sempre fizeram parte da minha vida e da maioria sociedade, especialmente os matinhenses, futebol e política O ano 1961 protagonizou muitos fatos históricos, além – obviamente -, do meu nascimento: o ato de rompimento dos EUA – Estados Unidos da América com a Revolução Cubana de Fidel Castro e Ernesto Tchê Guevara; Posse de John Fitzgerald Kennedy como presidente daquele país; a URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas -, envia ao espaço o primeiro homem, Yuri Gagarin; exilados cubanos tentam invadir a ilha caribenha, antes do ditador Fulgêncio Batista, e quintal do imperialismo, com o apoio dos Estados Unidos, no episódio, rechaçado pelos revolucionários no poder, chamado de invasão da Baia dos Porcos. Brasil : Jânio Quadros, sete meses após assumir, renuncia, em seu lugar entra João Goulart, o Jango.

Maranhão, estava no governo Newton de Barros Bello. Matinha, era prefeito Benedito Silva Gomes, o Bibi Gomes. Em 1965, elegeu-se governador o até então obscuro deputado Federal, José de Ribamar de Araújo Costa, que incorporara o nome próprio do pai, ao seu, passando denominar-se José Sarney, numa alusão ao apelido de campanha,” Zé de Sarney”, inaugurando a mais longeva oligarquia no Estado, que durou mais de quarenta anos. Francisco das Chagas Araújo, sagra-se prefeito de Matinha em 1965; sendo sucedido por Raimundo Silva Costa, o Pixuta, então um jovem de 28 anos em 1969. O decênio do meu nascimento foi rico de ocorrências históricas, culturais, políticas, marcando e demarcando tanto a minha quanto a vida de milhões de pessoas no mundo. Iniciei -o inocentemente, terminei taludinho, tentando entender o desenrolar dos acontecimentos. A Denominação “ anos rebeldes”, mostra a importância desse período nos caminhos, descaminhos, desdobramentos da humanidade, no seu próprio apelido. Mesmo não os tendo experimentado, devido a idade, sou um exemplo. Muito do que acredito, procuro viver, forjou-se, brotou, foi pregado, propagado, disseminado nessa década. Nossa geração sente-se filha dos Beatles, Rolling Stones, Chico Buarque, Roberto Carlos, do festival de Woodstock, dos festivais no Brasil, da guerra fria, conflito no Vietnã, corrida espacial, movimentos políticos de 1968 ( conforme Zuenir Ventura, o ano que não terminou…).

Os assassinatos dos irmãos John e Robert Kennedy, Che Guevara, movimento hippie, reinado de Pelé no futebol etc., plasmaram, serviram de paradigma a um grupamento humano, que hoje está agonizando, em função da idade avançada dos personagens envolvidos.. Fomos bicampeões mundiais,- numa sucessão a Copa do Mundo de 1958, que lançara aos 17 anos, o atleta do século XX, Edson Arantes do Nascimento, Pelé, na Suécia, quando pela primeira vez, ganhamos a taça Jules Rimet -, em 1962, no Chile, sem Pelé, mas com Garrincha, o gênio da perna torta, sendo herói. Em 1966 na Inglaterra, veio o fiasco, desta vez com os dois jogando. Em 1970 com nove anos, fui privilegiado ao escutar pelo rádio velho de vovó Lola, aquela inesquecível seleção sagrar-se tri campeã de futebol no México. Guardo de cor os nomes dos jogadores titulares, que sob o comando de Zagallo, porém preparada por João Saldanha, um comunista de carteirinha, demitido pelo General Medici, presidente de plantão da ditadura, nos proporcionaram essa imensa alegria – Felix, Carlos Alberto, Piazza, Brito e Everaldo. Gerson e Clodoaldo . Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino- E a música ? ecoa 50 e um anos depois…” noventa milhões em ação, pra frente Brasil, do meu coração, todos juntos vamos, pra frente Brasil, salve a seleção”. Esse contentamento, diferenciava da infame situação política do país, onde irmãos nossos eram perseguidos pelo regime. Eu só tomaria conhecimento dessa realidade anos depois. Tempos sombrios, a ditadura militar instalada em 1964, estava no seu auge. Não podíamos escolher diretamente presidentes, governadores ou prefeitos das capitais. Começava a vislumbrar, embora de modo tímido e indeciso, o mundo a qual queria palmilhar.

Fiz o primário, de 1ª a 4ª serie, depois o ginásio Bandeirante, de 5ª a 8ª . Em 1974 conquistei a primeira namorada, fato ocorrido em São Luís. Comecei a pescar de anzol, socó. Fui muitas vezes para a roça, mexer farinha, levado por papai, com menos assiduidade que os outros irmãos, pois segundo eles, era protegido de mamãe e Tchem, acho que eles estavam certos. Enveredei pelos caminhos da leitura, no começo revistinhas em quadrinhos também chamados de gibis, da Disney, Luluzinha, Recruta Zero, Tarzan, Fantasma, trazidas de São Luís por Tchem, depois evolui para bolsilivros, faroeste, guerra, espionagem. Era assíduo frequentador da biblioteca de Matinha, além de trocador contumaz de livros com alguns conterrâneos que também tinham hábito da leitura . Transformei- me num voraz leitor, lia tudo que chegava as mão, as vezes me perdia absorto, no caminho do comércio de seu Melques, onde mamãe mandava comprar açúcar, ou fumo para papai, folheando páginas de revistas jogadas pelo chão. Em 1973, Luís Augusto mudou-se para São Luís, visando melhores condições de vida, haja vista a pobreza em que vivíamos. Em 75, foi a vez de Palá, que no início do ano seguinte viajou para Fortaleza, engajando-se na Escola de Aprendizes de Marinheiros. Minha oportunidade aconteceu em 1978. O êxodo jovem sempre fez parte da realidade dos baixadeiros, somos obrigados a abandonar quem amamos na perspectiva de alcançar condições de instrução e posteriormente trabalho. Praticamente 100% das famílias são atingidas. Isto em função das parcas ou nenhuma possibilidade de estudo e crescimento de vida para a sua faixa etária . Esses moços acabam não mais voltando as suas origens, os que podem e conseguem avanço financeiro, casam-se, têm filhos, viram moradores da ilha de são Luís. Nada ou quase nada, sobra do baixadeiro, – apenas saudade em alguns -, nem o nosso peculiar sotaque. Atualmente, devido a maior acessibilidade dos transportes, estradas, além da comunicação, as distancias e ausências tornam-se menos doloridas. Mas o processo de emigração permanece. Os anos 70 foram de transição, infância, adolescência e juventude. Um longo aprendizado, eivado de erros e acertos, mas que certamente pavimentaram, formataram, o ser humano que hoje vira sexagenário. Período de intensa movimentação em todos os aspectos, na política o apogeu da ditadura militar, ocorrido no final dos anos 60, e primeiros cinco dos 70, vinha sendo solapado pelas forças do MDB, – Movimento Democrático Brasileiro – o partido da oposição, em detrimento da ARENA, – Aliança Renovadora Nacional – partido no governo.

Assim que ascenderam ao poder, os generais em concomitância a negação de eleições livres para governadores, prefeitos de capitais, presidentes, criaram em 1965, através do AI 2- Ato Institucional número 2 -, o sistema bipartidário, extinguindo o pluripartidário, até então adotado. Ou seja, todo o processo político seria dominado pelo partido do “sim senhor”, governo, a ARENA e do “não senhor”, O MDB – oposição consentida-. Em 1974, a oposição até então manietada, ganhou as eleições na maioria dos Estados, notadamente do sul e sudeste, obrigando o presidente general de plantão a editar o “ pacote de abril”, um conjunto de normas visando conter o avanço contra o governo. Acontecimentos: EUA, estourou em 72 o escândalo do Watergate, que levou a renúncia de então mandatário republicano Richard Nixon; Chile, ocorre em 1973 o 11 de setembro, o General Augusto Pinochet implanta uma ditadura, derrubando o presidente socialista eleito por voto direto, Salvador Allende; a crise do petróleo se instala, trazendo essa matriz energética e a OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo -, para o centro dos debates. Emerson Fittipaldi, piloto brasileiro de fórmula 1, torna-se bicampeão da modalidade; o primeiro vídeo game é lançado; a revolução dos cravos acontece em Portugal; começam a aparecer os primeiros televisores a cores. O Brasil perde a copa na Alemanha em 1974 e Argentina em 1978.

Os Estados e as capitais permanecem não tendo eleições, a fase aguda da ditadura passa a decair, com general Golbery do Couto e Silva a frente, começa o processo de anistia lenta e gradual Em Matinha as eleições de 72 foram turbulentas, o prefeito eleito, o jovem Aristóteles Araújo, teve a posse cancelada, assumindo a sua vice Aldenora Borges, que dois anos depois, também saiu, entrando José Estácio Baia, o segundo colocado no pleito. Essa legislatura encerrou com o presidente da Câmara Municipal, Manoel de Jesus Amaral, o Manoelzinho, sendo o gestor. .Em 1976, Aristóteles é finalmente eleito e investido para o executivo municipal. . Surge um jogador que a minha geração de flamenguistas passou a idolatrar, Artur Antunes de Coimbra, Zico, “ o galinho de Quintino”. O melhor jogador do mundo pra mim e toda a torcida do Flamengo. Aí podem perguntar, e Pelé, tu não viste jogar? Ele Zico era melhor que Edson Arantes do Nascimento? respondo: Pelé é hors concours. Chego ao final desse decênio, terminando o ensino médio e tentando entrar na Universidade. Fiz vários vestibulares, não consegui, minha vida era ficar em Matinha e vir esporadicamente a São Luís. Os anos 80 começaram com o país em polvorosa. No cenário nacional, a ditadura militar agonizava. Quase duas décadas de comando e seu legado era catastrófico, inflação, obras faraônicas, escândalos os mais diversos, pipocam. No poder o general João Baptista Figueiredo, um perfeito falastrão, dizia amar mais os cavalos que o povo, e pedia para ser esquecido. Conseguiu seu objetivo.

Ciente do enfado causado pelo regime, a ditadura escalou o general Golbery do Couto e Silva, para fazer a distensão do regime, a chamada anistia, simultaneamente, sindicato eram organizados, reorganizados, criados, difundidos Em 11 de fevereiro de 1981, metalúrgicos do ABC paulista, bancários, outros sindicatos, intelectuais, vários brasileiros que voltaram do exilio, fundaram o PT – Partido dos Trabalhadores -. Novidades começaram a aparecer na política nacional. O bipartidarismo que vigorara até 1979, está extinto, novas agremiações partidárias são criadas ou recriadas. A ARENA, vira PDS – o MDB, muda o nome para PMDB . Leonel Brizola, vindo do exilio, cria o PDT, – uma dissidência do PTB, de Ivete Vargas, filha de Getúlio -; o PSB é recriado por Arraes. Vários exilados, expulsos do país pelo regime de exceção, retornam: Betinho, o sociólogo Herbert de Sousa, Vladimir Palmeira, José Dirceu, Neiva Moreira, etc.. O país pulsava, em 1982 ocorreram eleições gerais: Pernambuco elege Arraes; Rio de Janeiro, Brizola; Minas Gerais, Tancredo Neves. Nomes expressivos venceram nas urnas. O PDS, – Partido Democrático Social -, do governo, fez a maioria da Câmara e do Senado. O PT elegeu oito deputados federais. Maranhão, foi eleito governador o deputado Luís Rocha e para o senado João Castelo. Matinha, Raimundo Silva Costa, o Pixuta – é eleito pela segunda vez prefeito da cidade. Foi a primeira vez que votei. Em 1988, Raimundo Freire Cutrim, que havia sido vice de Aristóteles em 1976, vence as eleições na terra da manga, contra o próprio ex – aliado. A década de oitenta que começara com um general na presidência, encerra-se efetuando a primeira eleição geral no país. Eu, que iniciara o decênio prestando vestibular para entrar na universidade, o encerro casando-me. Em 04 de fevereiro de 1989, contraio núpcias com Antonia Chaves Costa Leite, uma arariense que encontrei e me apaixonei quando fui morar na terra da melancia. Principais fatos: o ator Ronald Reagan, é eleito presidente dos Estados Unidos, pelo partido republicano; acontece no Brasil o movimento Diretas Já, que animou bastante a população; o governador Tancredo Neves é eleito presidente pelo chamado Colégio Eleitoral, tendo como oponente Paulo Salim Maluf. Infelizmente não assume, e seu vice, o maranhense José Sarney, vira presidente; acontece o acidente na usina nuclear de Chernobyl, na atual Ucrânia, que à época fazia parte da União Soviética.

Em 1988, após um processo constituinte, é promulgada a “Constituição Cidadã”, assim denominada por Ulisses Guimarães. A melhor seleção que eu vi atuar, já numa TV em cores – a de 70 só escutei – perdia a copa do mundo da Espanha. Um grupo sensacional de jogadores que sob o comando de Telê Santana, maravilhou o mundo. Saíamos da longa noite de ditadura, em 1989 acontecem as eleições gerais. Pela primeira desde 1960, quando escolhemos de forma democrática e direta a Jânio da Silva Quadros, tivemos a oportunidade de retorno as urnas. Muitos postulantes por diversos partidos : Aureliano Chaves, pelo PFL – Partido da Frente Liberal -Mario Covas, PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira -; Ulisses Guimarães, PMDB -; Leonel de Moura Brizola, PDT – Partido Democrático Trabalhista; Fernando Collor de Mello, PRN – Partido da Renovação Nacional; Paulo Salim Maluf, PDS –; Luís Inácio Lula da Silva, PT . Uma bela campanha, acirrada disputa, intensa participação popular. Estávamos ávidos por Democracia . Foram para o segundo turno Collor e Lula. Este resultado surpreendeu, já que o país inteiro entendia, estimulado pelas pesquisas, que Brizola faria o essa etapa com o representante do PRN. Num pleito cheio de ameaças e sujeiras, Collor, o caçador de marajás da globo e das elites, ex-governador de Alagoas, sagrou-se vencedor, passando para a história como o primeiro presidente eleito diretamente após a ditadura militar. Copiosos acontecimentos comigo: morei em Balsas no ano de 1982, ao lado de Rogério de Socorro Neves, prestando serviço na COMABA – Companhia Maranhense de Abastecimento -, como auxiliar de classificador de produtos de origem vegetal; virei bancário pela primeira vez, no banco Econômico, laborando em Matinha.

Posteriormente a saída deste órgão, que fechara durante o governo Sarney, labutei uns tempos na Odebrecht, que estava construindo a MA 014. Em 1987, estando desempregado, através de Tchem, consigo com Antoninho Costa, que era funcionário do Ministério da Agricultura e que já me arranjara o serviço em Balsas, uma vaga de novo na COMABA, desta vez como classificador de produtos de origem vegetal lotado na cidade de Arari, haja vista que na região – Arari e Vitoria do Mearim -, estavam sendo plantados e colhidos muito arroz por produtores gaúchos em regime de irrigação. 1988, começo a trabalhar na terra da melancia, depois de um curso rápido no Ministério de Agricultura, início o namoro com Antonia, e em 04 de fevereiro de 1989 nos casamos. Eleito governador pelo Maranhão, Epitácio Cafeteira, institui, numa medida acredito que inédita, concurso para o Banco do Estado do Maranhão, O BEM. Inscrevi-me mas sem muita convicção de que passaria, tampouco esforcei-me em estudar, achava viver bem com o salário de classificador.

Fizemos a prova, eu e Amilton, esposo de Elda, irmã de Antonia, em São Bento, o certame fora dividido por regiões. Surpreendentemente sou aprovado em 23º lugar, sendo após algum tempo, chamado para o exercício na própria cidade de Arari. Assumo pela segunda vez, a função de caixa de banco em 10 de julho de 1989. Os anos 90 começaram com a “ República de Alagoas”, nome dado ao governo Collor de Mello no poder. Sua ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, adotou medidas que foram extremamente impopulares, dentre estas, o confisco das poupanças. O presidente, que se elegera sob grande apelo midiático, albergado na luta contra a corrupção, sofria, em função dos mais diversos escândalos, forte desgaste. Acontecimentos: a Alemanha é enfim reunificada, num final concreto ao episódio ocorrido em novembro de 1989, denominado quebra do muro de Berlim; os EUA iniciam a guerra do golfo, com transmissão ao vivo pela CNN; o fim da URSS, consequentemente da guerra fria entre as duas maiores nações do mundo; Airton Sena aparece no cenário da fórmula 1, como o melhor piloto do mundo. Inesquecíveis as manhãs de domingo, do jingle da vitória, cantado sempre que Airton ganhava um grande prêmio, sua morte em 1994 no autódromo de Imola na Itália, causou intensa comoção; perdemos a copa de 90 na Itália, ganhamos a de 94 nos Estados Unidos e perdemos na final a de 98 na França; é instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente; o colapso da Iugoslávia, Checoslováquia, Polonia, Albânia, mostram enfim a quebra dos chamados estados socialistas do leste europeu. Iniciei os anos 90 no BEM de Arari, na agência que a população denominou ” caixa de isopor”. Morávamos numa casa alugada próxima ao banco, íamos quase todo mês a Matinha. Em 1992 foi aberta uma agência do BEM em Matinha, no prédio onde antes era o mercado Municipal, consegui ser transferido, trabalhando sob a gerência de Antônio Carlos Rabello, o “Bacharel”, antigo funcionário do banco e sãobentuense de nascença. Em 1992 adotamos Carlos Guilherme. Estávamos casados a três anos e nada de aparecer bebês, após Guilherme, Antonia engravidou de Ana Flávia, que nasceu em 1994, e de Carlos Gustavo, nascido em 1996.

Uma década tal qual as outras, movimentação intensa. Entrei para a disputa no Sindicato dos Bancários, participando das mudanças acontecidas: derrotamos uma diretoria arcaica, arraigada num projeto que não concordávamos, durante vários mandatos fui diretor do SEEB para a regional Pinheiro. Muitas lutas ocorreram, para contá-las seria necessário um outro texto, no Sindicato dos Bancários lapidei o engajamento político/ideológico. Escola formidável, uma universidade onde não logrei a obtenção de diploma formal, mas adquiri conhecimento igual ou superior. Sou grato a Deus por me proporcionar essa experiência Minha vida vida pessoal e militância foram diretamente atingidas, como funcionário do BEM e membro do SEEB – Ma, lutei até o fim para manter o banco como estatal. Participei de inúmeros seminários, palestras, encontros, debates, bem como conheci o Maranhão e uma boa parte do Brasil. Ao mesmo tempo vivenciava na IPIB de Matinha momentos maravilhosos. No templo central, nas congregações de Santa Maria, Meia Légua, Pinheiro; atuei em eventos conjuntos com Viana e as congregações de Penalva, São João Batista, Sacaitaua, – que logo após viraram igrejas -.. Uma fase palpitante, deixou saudade e ensinamento para mim e a família, tanto da fé quanto de sangue.

Atuei ainda como professor num curso de 4º ano adicional para alunos de magistério. Em 1995, presidi uma das três seções que funcionaram na condução do plebiscito de fundação da cidade de Olinda Nova do Maranhão, na ocasião brincava com uma pessoa da família Cutrim, que a cidade deveria chamar-se Cutrinopólis ou Cutrimlândia . Assume o governo do país Itamar Franco, em substituição a Fernando Collor, que fora impedido. Iniciam-se os processos de privatização de algumas estatais brasileiras, era o neoliberalismo mostrando sua face cruel. Empresas estrangeiras entraram fortemente no mercado do país, o Mercosul criado no governo Sarney é ratificado. Objetivando conter o alto índice inflacionário, piorado por Collor e que já vinha desde Sarney, Itamar cria o plano real, sob a condução do seu ministro da Economia, o senador pelo PSDB Fernando Henrique Cardoso. O plano real deu certo, a inflação, o dragão que nos oprimia, foi debelada. O Maranhão iniciou a década com Edson Lobão no governo, em substituição a Epitácio Cafeteira. Em 1995 Roseana Sarney assume o governo. Ela que fora deputada federal atuante durante o impeachment, sendo considerada a musa do processo, chega ao poder estadual, na condição de primeira mulher eleita governadora do Brasil, não sei esse fato deixou algum legado para a luta feminina, sabemos que sua escolha se deu não pela condição de gênero, mas sim, por ser filha do dono do Maranhão. É reeleita em 1998. Em Matinha, Pixuta sucede a Raimundo Cutrim em 1992, é o terceiro mandato de prefeito da cidade. Em 1996 Aristóteles Araújo retorna ao poder municipal, um segundo mandato, vinte anos depois do primeiro. Em 1994, eu e Antonia nos filiamos ao PT, no mesmo ano adquirimos nossa casa própria, até então morávamos na antiga casa de dona Aniquinha, alugada por Júlio Berredo seu genro.

Fernando Henrique Cardoso, aproveitando-se da fama do plano real, ganha as eleições presidenciais de 94, reelegendo-se em 98. Na África do Sul, o socialista Nelson Mandela, após vinte sete anos de prisão, é eleito presidente, dando fim ao vergonhoso apartheid Minha vida era banco, trabalhando no caixa; sindicato dos Bancários, viajando quase que todo final de semana; militância no município, junto ao Sindicato dos trabalhadores Rurais; o Partido; atividades na IPIB, e pescaria de bagrinhos a noite. Durante o inverno eu pescava quase todos os dias, era meu maior lazer. Tempos de alegrias: nascimento dos filhos, participação na vida política e religiosa da região da Baixada, de tristeza, minha filha foi atropelada, e teve que ir para UTI. Fui aprovado em primeiro lugar no concurso do Estado para agente administrativo, mas acabei renunciando ao cargo. O governo Roseana Sarney, mirou a privatização do BEM, junto com o seu preposto, o presidente da instituição, Afonso Celso Pantoja, centrou fogo contra nós. Por ser da diretoria do SEEB e funcionário do banco, virei alvo de retaliação. Em 1997 erámos quatro funcionários na agência de Matinha, resolveram demitir -me, mesmo a citada filial não estando deficitária, sendo eu concursado , e participante de uma das chapas que estavam concorrendo a direção do Sindicato. Momento de muita angústia, dor, instabilidade, tristeza. Fui reintegrado meses depois, através de uma liminar obtida pelos advogados do SEEB.

Devido a minha condição de membro da diretoria, estava dentro da chamada estabilidade provisória, que possui duração de até um ano depois de encerrado o mandato. Havendo, portanto, o impedimento para dispensa. A justiça reconheceu este direito. Contado assim parece fácil, porém foram momentos duros, tensos, de muita inquietação, ansiedade e movimentação. Amigos produziram abaixo – assinados na cidade, favoráveis a minha permanência na agencia. Cansado na busca de políticos que pudessem ajudar meu retorno e acossado pela falta de dinheiro, procurei o banco visando efetivar o afastamento. Então, frente ao funcionário do ministério do trabalho e o preposto do empregador, tive a perfeita noção do significado de amor e cuidado de Deus. O representante disse não ser possível a demissão, devido o vínculo sindical, e eu deveria entrar na justiça para retomar o cargo. Como tudo que Deus faz é bom, já dizia Maria de Lola, nesse tempo que passei fora do BEM, sem salário, consegui uma nova forma de trabalho. Com a saída de Palá meu irmão da Câmara Municipal de Olinda Nova, ocupei o lugar dele na função de assessor na secretaria da mesa diretora. Estive no mandato de dois presidentes, Natinho Penha e João Lobo, essa função representou mais um aprendizado. As sessões eram aos sábados.

Como membro do SEEB e do Conselho da IPIB Matinha, em conjunto com outras entidades, ajudei na criação da Rádio Comunitária Manga FM, sendo eleito tesoureiro da primeira diretoria. A rádio Comunitária Manga FM nasceu no dia 08 de julho de 1998. A IPIB recebeu na década por duas vezes, membros da Igreja Presbiteriana do Vale do Muskingon, do Estado de Ohio, nos EUA. Esses irmãos nos auxiliaram na construção dos templos das congregações de Santa Maria dos Meireles e Pinheiro, botando literalmente as mãos na massa. Visitei duas vezes a cidade de Natal no Rio Grande do Norte, participando de encontros da IPIB. Devido o estresse da função de caixa – chegava a fazer uma média 850 autenticações por dia-, dos problemas inerentes a privatização, adquiri LERDORT,( Lesão por Esforço Repetitivo- Doença Osteomolecular Referente ao Trabalho ) uma enfermidade ainda pouco conhecida na medicina, haja vista ser causada no laboro do computador, foi mais um front de batalha junto ao banco e ao INSS. “O ano dois mil chegou”, dizia um famoso jingle eleitoral cantado e decantado por Diógenes Araújo, essa música foi um marco da campanha de reeleição de Aristóteles . Estávamos finalmente adentrando ao século XXI. No banco havia o terror da privatização continuado pela governadora, que fora reeleita em 1998, e seu preposto Pantoja. A noite do dia 31 de dezembro do ano de 99, passamos dentro da agência, o medo era de acontecer um bug no sistema de informática, recém-inaugurado. O frisson era grande, um verdadeiro pandemônio, religiosos fundamentalistas, punham-se em genuflexo, esperando a volta de Cristo. Tal qual outras épocas, as mais inverossímeis histórias de profecias apocalípticas circulavam mundo a fora.

Ocorreram inúmeros casos de suicídios, autoflagelações, e outras monstruosidades no meio da sociedade, notadamente entre os ditos religiosos. Tudo vão, a velha terra continuou girando em torno do sol. Igualzinho a antes, as coisas continuaram acontecendo. A doença da vaca louca aparece, levando parte da humanidade a se tornar vegana ou vegetariana. Em 2002, finalmente Lula chega ao poder, após três tentativas fracassadas. Venceu a José Serra do PSDB. Em Matinha, Aristóteles é reeleito, empatando com Pixuta no número de mandatos exercidos, três vezes cada um. No Estado, José Reinaldo Tavares, antigo aliado dos Sarney, que era vice de Roseana, elege-se ainda em primeiro turno, substituindo a governadora. Durante seu governo em 2004, o Banco do Estado é dado ao Bradesco. Por uma ninharia o gigante privado o compra Os anos 2000 notabilizaram-se pelo famoso ataque as torres gêmeas em Nova Iorque. O dia 11 de setembro de 2001, torna-se marco histórico, abrindo espaço para que George W Bush pudesse caçar o ex – aliado Osama Bin Laden e o grupo Al Qaeda. O mundo estava entrando em um novo momento quanto ao processo do imperialismo ianque e seus comandados ocidentais. Em 2006, com o país passando por seu melhor momento econômico, Lula foi reeleito . Em Matinha, dois anos antes, Marcos Robert Silva Costa, o Beto Pixuta, vence a prefeitura. Continuo a luta contra a LER/DORT. Em 2004, após a entrega do BEM pela governadora Sarney, fui afastado, ficando recebendo proventos pelo INSS. Foram tempos duros, deixaram marcas profundas em minha alma. Mergulho de cabeça na política partidária de minha terra, essa militância acabou gerando problemas, que ainda hoje, muitos anos depois, tenho que administrar e lamber as feridas ou cicatrizes deixadas.

Dividia o tempo entre igreja, ativismo sindical no SEEB, partidária no PT e principalmente na dicotômica e figadal disputa de Matinha. Em função a sua posição estratégica, minha residência tornou-se um pequeno comitê . Lá traçamos inúmeros planos e táticas de luta, estabelecíamos a defesa de funcionários demitidos pela prefeitura municipal, praticávamos a disputa nos três âmbitos – nacional, estadual e municipal – de dia e de noite. Era o local imagino, depois da casa de Aristóteles e Pixuta, mais visitado da cidade. Em 2002 ajudei na campanha vitoriosa de Lula, 2004 perdi com Alfredo Mendonça Silva a prefeitura; 2006 novamente a vitória de Lula. 2008 o êxito com o dr Emanoel Travassos eleito prefeito. A rotina se manteve até 2010, quando da primeira eleição de Dilma Rousseff Sofri intenso desgaste ante de alguns parentes que não aceitavam a minha postura contra o que denominavam “ família”.

Além de conflitos internos com Antonia e os filhos. Hoje, sem arrependimento, olhando a história, a junção dos núcleos até então antagônicos, reflito no quanto esta pode ser irônica. Eu que fui adepto de um grupamento político até 1992, passando para o outro em 2000, poderia, juntamente a muitos, executar uma trajetória diferente. Provavelmente teríamos outro desfecho, estaríamos contando outra história. Entre 2008 e 2010, utilizando os benefícios do fundo de garantia e o boom do governo Lula, consegui fazer o único negócio certo na vida, do ponto de vista de investimentos: comprei, após muita relutância, um apartamento para posterior entrega, em São Luís. Recebido o imóvel, Antonia e os meninos ficaram morando nele. Ia esporadicamente visitá-los, ainda sem muita certeza que deveria deixar Matinha. Abril de 2012, seguindo o exemplo de Tchem em 2000, papai 2003, Deus resolveu levar mamãe. Estava agora inteiramente só. Esta ocorrência, conjuntamente ao mal-estar gerado por exposição desnecessária e a aprovação no Enem para o curso de Filosofia, trouxeram – me definitivamente para junto dos meus. Passei a ser, pelo menos temporariamente, cidadão ludovicense. Diz a tradição que todo início de século e de milênio, é cheio de fatos memoráveis, estranhos, esdrúxulos. Deve ser verdade, pois os dez primeiros anos do século XXI foram movimentadíssimos e incomuns. Num mundo livre da polarização USA x URSS, a chamada guerra fria, que era a disputa das duas supernações em espaços geopolíticos distantes dos seus, tendo se acabado, aparecem as intervenções do país que se tornou hegemônico, em ações no Oriente Médio, se confrontando a governos eleitos na América Latina, em apoio as ditaduras militares que até então ocorriam.

Governava os EUA George W Bush, do partido Republicano. O Brasil vivia o final do segundo governo FHC. Obedecendo ao capital internacional e seus sequazes, o presidente buscava implantar privatizações no país, prosseguindo o desmonte estatal que o PSDB escolheu como meta de governo. Muitos fatos ocorreram gerando desdobramentos até hoje. Tentarei relembrar alguns: ataque as torres gêmeas em Nova Iorque. O início da guerra contra Osama Bin Laden. O papa João Paulo II morre; a Asia é devastada por um tsunami; acontece o primeiro furacão no Brasil, o genoma humano é completamente decodificado. Nascem o Yutube, o Orkut, Twiter e Facebook. Jogos eletrônicos começaram a ser vendidos em massa. No esporte, a seleção brasileira sagrou-se penta campeã nos Estados Unidos em 2002. Estávamos enfim libertados do fiasco na França. Em 2006 na Alemanha e 2010 na África do Sul, voltamos a perder .Lula se elege em 2002, reelege em 2006 e faz sua sucessora em 2010, a presidenta Dilma. Como não podia deixar de ser, foram anos de aprendizado e sofrimento. Em 2001 conheci Brasília, participando do Encontro Nacional de Bancários, ocasião em que pela primeira vez viajei de avião. Também através do SEEB estive em Campina Grande na Paraíba. Aliás, a minha militância sindical permitiu a este caboco matinhense, conhecer muitos lugares no Maranhão e no País. A LER/DORT não dava sossego, trabalhava alguns meses, e logo tinha que me afastar devido a dor insuportável. Em 2004, sai do banco para ficar pelo INSS. Foram nove anos de estresses altíssimos suportando exames e perícias, somente em 2013 consegui a aposentadoria definitiva por invalidez. Suava feito condenado perto de um computador, tomei centenas de antibióticos, muita fisioterapia, massagens, tratamentos alternativos, a sensação de a qualquer momento ter uma perícia rejeitada, e consequentemente, ficar sem dinheiro era o pior dos mundos.

Tudo ia no mesmo diapasão, estávamos no segundo decênio do século XXI, e eu continuava mais ou menos como aquele personagem do poema de Carlos Drummond de Andrade,” Cidadezinha Qualquer”, que fala do cotidiano de uma pequena povoação mineira e termina com um enfático, “ eta vida besta, meu Deus”. Um viver pra lá de besta, sem futuro, presente cheio de problemas e passado briguento. Longe de Antonia e dos meninos, meu tempo se resumia em visitar mamãe, já debilitada, numa cadeira de rodas, conversar sobre política de manhã e tarde, ficar acordado com as pessoas na calçada até meia noite, em intermináveis debates, uma espécie de looping, recheado de fofocas, temas estéreis, tendo como pano de fundo a política. Esse desgaste obviamente prejudicava a saúde tanto física quanto mental. Diabetes, pressão arterial, esteatose hepática, LER/DORT, coluna, as moléstias que me afligiam no corpo e na alma, eram extremamente afetadas. O resultado ficava patente em atitudes, as vezes agressivas, noutras apáticas, trazendo sofrimento principalmente a quem mais amo, minha família. Todos os limites estavam sendo ultrapassados, necessitava acontecer um ponto de ruptura, alguma saída deveria acontecer. E ela veio, Deus, na sua insondável bondade permitiu a quebra desse círculo vicioso.

Ao final de 2011, para testar conhecimentos, fiz a prova do Enem, colocando como primeira opção o curso de Direito, na modalidade pessoas com deficiência. Tempos depois recebi o resultado: minhas notas não alcançaram condições na primeira opção, mas fora classificado para segunda, Filosofia Licenciatura. Impossível mensurar a alegria, trinta e um anos depois de ter prestado o último vestibular, meu sonho de cursar uma faculdade, eclipsado por atividades inerentes ao dia a dia de quem sobrevive neste país, como trabalhar, criar filhos, etc.. estava enfim se realizando. Destarte, mudei-me definitivamente para nosso apartamento e comecei o curso no segundo semestre de 2012. Voltar aos bancos de escola após tanto tempo, efetuou em mim intensos sentimentos, alguns de reconhecimento de incapacidade na condução dos estudos. Foram necessárias muitas conversas com amigos, parentes, pessoas de confiança, para dissuadir-me da vontade de largar o curso nos dois primeiros semestres, felizmente consegui superar. Expectativas foram quebradas, positiva e negativamente no curso de Filosofia. Pensava encontrar, – intuía ser assim a Universidade, especialmente uma Federal na área de humanas-, um ambiente de debates em todos os fundamentos, especialmente o político, que sempre acompanhou minha trajetória. Esbarrei, em que pese o amplo e profundo saber dos conteúdos, professores avessos a querelas ou temas mais espinhosos sob a ótica ideológica, ante qualquer pergunta ou inclinação, “ fechavam-se em copas, retornando rapidamente, e sem muita explicação, ao que denominavam ” grade de ensino”. Oriundo do mundo sindical e tendo praticado as liças na igreja e na vida, aquelas atitudes eram incompreensíveis. É verdade que estávamos a época do governo Dilma, com vultosas ajudas para reformas das universidades federais. Isto ficava bem visível no canteiro de obras que a UFMA se transformara, sob a direção do reitor Natalino Salgado.

Ou seja, o momento era de pujança no ambiente externo destas. Apareciam tremendas, absurdas críticas a esquerda, e os escândalos que a mídia, o PIG – Partido da Imprensa Golpista -, já colocava no seu esquema. Vivenciei o início dos movimentos de 2013, a ascensão do protofascismo, com as greves dos jovens, o famoso movimento dos 20 centavos. Houve ainda a quebra de um paradigma, sempre sublinhada quando referido a jovens universitários, de que estes são um bando de drogados, e irresponsáveis. Usuários de drogas existem, como em toda a sociedade, mas são minoria. Rapazes e moças das mais diversas etnias, condições financeiras frágeis, ali estavam com o fito de aprender, aproveitando aquele espaço que o governo popular progressista proporcionou, tendo como base cotas, de poderem fazer um curso superior. Era a Universidade, no seu sentido mais amplo de unidade na diversidade. Conheço muitos colegas da Filosofia, que abandonaram e foram para o Direito, Medicina, Economia, etc, ou seja, o curso primeiro era só o preambulo da aventura do conhecimento, da vontade em ser alguém, enfim, mudar de vida. Devido a minha idade já fora dos padrões e dificuldades em assimilar o processo de estudo e pesquisa, notadamente na área de informática, tive o adjutório dos colegas. Tentava compensar falando, ensinando sobre experiencias políticas, acabei virando o tiozão da turma. Cheguei a participar do do DA – Departamento Acadêmico – durante certo tempo, na função de tesoureiro. Anos de intenso conhecimento, aprendi, apreendi, incorporei, refleti, reavaliei, muito mais do que havia visto na vida anteriormente, métodos até então desconhecidos, foram agregados ao meu ser, suscitando em consequência uma vontade que exercitada na meninice, em rabiscos de caderno, por falta de tempo ou capacidade, fora esquecida no fundo da memória, que vez por outra aparecia no coração, a arte de escrever. Assistindo aulas dos melhores professores da UFMA, conversando com alunos que já escreviam, lendo , estudando filósofos de grande monta, redigindo textos obrigatórios para provas, assimilei um estilo de prepará-los, gostei do experimento. Passei a ser menos intolerante, entender o outro, ter mais alteridade. Incorporei palavras que até então não conhecia e usar um computador fora do quadrado de caixa de banco. Antes não conseguia delinear duas linhas inteiras, desenvolvê-las, agora me via, de uma hora pra outra, como que num passe de mágica, estendendo temáticas sobre páginas e páginas, preparando raciocínios e colocando-os no padrão, um avanço formidável. Infelizmente, devido problemas de saúde, não consegui graduação, faltou a defesa da monografia, que era baseada no livro do filósofo judeu Walter Benjamin, “A obra de Arte da Era de sua Reprodutibilidade Técnica”.

Cursar filosofia possibilitou – me outro mundo, uma visão além da política partidária, sindical, compartilhei entendimentos, erudição, com uma gama de pessoas as quais não teria acesso no cotidiano que convivia. Criei amigos entre religiosos, pastores, freiras, ateus, agnósticos, ricos, pobres, remediados, uma inesquecível e fascinante oportunidade. Enttar na UFMA, mesmo com alguns aspectos negativos, os quais já citei, foi sem dúvida mimo de Deus para um calvinista convicto. Além da participação em cursos, seminários; interação com alunos, professores de cursos da área de humanas; fui privilegiado ao tomar contato depois dos 50 anos, com filósofos do naipe de Parmênides, Platão, Aristóteles, Plotino, Rousseau, Marx, Benjamin, Hegel, Arendt, dentre outros. Um divisor de águas, o João Carlos que sempre anelou penetrar na cultura de modo mais teórico, agora se encontrava com as condições de realizar uma de suas utopias. Em 2013 confeccionei um texto bem simples denominado “Nomes exóticos de Matinha”, foi o preludio para novas composições mais bem elaboradas, que melhoravam de acordo com crescimento e aprendizado na Universidade. Cabe reafirmar: esse foi o período em que mais se viu a inclusão de etnias, classes sociais, minorias, no ambiente acadêmico, testemunhei ao vivo negros, índios, pessoas com deficiência, de todas as orientações sexuais, classes sociais, transitando no restaurante universitário, salas de aula, bibliotecas, eventos, graças as políticas de inclusão implantadas.

A década inicial do século proporcionou grande avanço em termos de tecnologia, o computador e a internet, que eram ainda produtos de difícil acesso na antecessora , passaram a ter uso massivo, um só aparelho era capaz trazer todos os elementos de contato entre os seres humanos. Essa ascensão possibilitou progressos até então inimagináveis. O segundo decênio suscitou ao povo brasileiro, embalado pelas ótimas condições de vida dos governos petistas acesso a estas ferramentas Minha vinda em definitivo para São Luís, ampliou as amizades, bem como renovou algumas que estavam mornas devido à distância. Desse modo, concomitante ao curso, pude participar de outras atividades no contexto cultural e religioso. Fui eleito tesoureiro do PNOR – Presbitério do Norte-, órgão que agrega as IPIBs dos Estados do Maranhão, Pará e Piauí Eu que fora tesoureiro durante muitos anos em Matinha, sempre acalentara a vontade de exercer a função no PNOR, era tolhido pelo fato de morar no interior. Atuei no FDBM – Fórum em Defesa da Baixada Maranhense -, uma instituição que junta baixadeiros moradores da capital, em cidades da própria região, e ainda pessoas que nutrem, mesmo não sendo nascidos ou descendentes, carinho, respeito e disposição de ajudar. O objetivo é colaborar na preservação, melhoria da qualidade de vida da mais antiga, linda, emblemática, porém, mais pobre área do Estado. A Baixada Maranhense é a verdadeira fonte da população ludovicense, haja vista, que 70% dos moradores são oriundos ou descendem dela. Através dessa entidade, pude conhecer facetas até então desconhecidas da microrregião onde sou nativo.

Participei de inúmeras reuniões com irmãos nossos, mulheres e homens de valor, tentando compreender o porquê da contradição de tamanha indigência para um espaço geográfico tão fecundo, e na articulação de diagnósticos e medidas buscando a superação dos problemas. Colaborei com um artigo no livro organizado pelo FDBM denominado “Ecos da Baixada”. Onde homenageio ao político mais completo que conheci, Juarez Silva Costa. Com o computador e a internet, que eram ainda produtos de difícil acesso, só permitido a pessoas de posses passando a ter uso massivo, a realidade do país mudou. Um só aparelho era capaz de trazer todos os ingredientes de contato entre os seres humanos. Este fato possibilitou que mídias se juntassem. Podemos num smartfone, usar WhatsApp, twiter, facebook, músicas, vídeos, yutube, ouvimos música, vemos vídeos, fotos, lemos livros, noticias, TV, rádio, transações bancarias, lista de compras, escrevemos, etc.. tudo num só aparelho e ainda telefonamos. Isto foi possível no embalo das ótimas condições de vida proporcionadas pelos governos petistas, tal fator positivo, ensejou a integração de parcela significativa da população a informação, que agora estava ao alcance de todos proliferando pelos wi fis, levando a web aos mais longínquos rincões, também trouxe no seu bojo o lado negativo. Grupos de extrema-direita tomaram conta desse nicho e passaram a disseminar narrativas inverídicas, os chamados fake News, em conluio com lideranças pseudorreligiosas, tentando num movimento em nível mundial, retirar governos sociais-democratas, sob o argumento já antigo e surrado do combate ao comunismo, que como todos sabemos nem chegou a existir de fato. Destarte, vivemos tempo de obscurantismo, negacionista, com ideias que foram abolidas na idade média, sendo reeditadas.

A terra é plana, vacinas fazem mal, fundamentalismo religioso, supremacia branca, perseguição a minorias, todo este caldo de cultura, permeia a sociedade, pensamentos retrógrados, animalescos e primitivos sendo distribuídos, disseminados pelo que a humanidade tem de mais avançado em termos tecnológicos. Uma completa contradição. Em 2017 um outro sonho tornou-se realidade, com o apoio do FDBM, num projeto de instalação de academias de letras em cidades da Baixada, e tendo a ajuda de muitos conterrâneos fundamos a AMCAL – Academia Matinhense de Ciências Artes e Letras -. Após uma reunião aberta a todos que ali estavam, escolhemos patronos, patronas, também alguns membros, ditos acadêmicos, coube a mim a cadeira !7, patroneada por Maria Jose da Silva Costa Leite, Maria de Lola, minha mãe. A construção de academias de letras, é extremamente necessária para a melhoria e conservação da cultura em uma cidade. Quando do surgimento do FDBM, havia na Baixada apenas cinco destas instituições, fato preocupante, e que necessitava urgente mudança. Atualmente, além de das academias de Anajatuba, Arari, Vitória, Viana, Pinheiro e São Bento, que já existiam, temos também Matinha, Peri Mirim e São João Batista, com a perspectiva de outras serem formadas. Não tem como não se orgulhar em pertencer a uma academia que representa o nosso torrão, especialmente quando esta, – pelo menos foi assim que tivemos o pensamento inicial – tem como horizonte, divulgar, defender a cultura, ciência e a arte, por um viés menos academicista e mais popular. Os acontecimentos da última década foram tal e qual todos, cheios de emoção .Logo depois da reeleição da presidenta Dilma em 2014, seu adversário, inconformado com a derrota, iniciou, deflagrou, juntamente com as elites econômicas, em conluio com o judiciário, legislativo, núcleos imperialistas, e a imprensa, uma ação contra seu mandato, que culminou no impeachment em 2016. Retiraram do poder de uma nação que estava tendo seu momento de melhoria econômica, já no ranking das dez maiores, uma presidenta honesta – nunca acharam corrupção -, para colocar no lugar, um carcomido representante do capital, e para começar a implantar medidas contra a classe trabalhadora, sob o argumento de contenção de gastos e controle fiscal, como privatizações de empresas estatais estratégicas, reforma trabalhista, e previdenciária.

Simultaneamente a isso a operação lava a jato, hoje sabemos a reboque dos serviços secretos estrangeiros, passou a perseguir membros do PT e seus aliados, sob a desculpa de combate a corrupção. Com a cobertura da mídia vassala, protagonizaram operações e mais operações contra o governo então no poder. Corroendo a credibilidade da presidenta. O resultado veio logo, sem nenhum crime contra Dilma, preparam e efetuaram seu impedimento, empossando o vice, Michel Temer, num declarado golpe contra a jovem democracia brasileira. Não satisfeitos, desenvolveram um lawfere que só teve paralelo com o caso Dreyfus, na França, contra o ex-presidente Lula, prendendo -o, impedindo -o de ser candidato nas eleições de 2018, quando ele .liderava todas as pesquisas. 2018 Jair Bolsonaro elegeu-se presidente do País. 2012, Beto Pixuta pela segunda vez é prefeito . 2016, Matinha escohe sua primeira prefeita, Linielda Nunes Cunha que é reeleita em 2020. 2014 Flavio Dino é eleito governador, derrotando mais de 50 anos de domínio da família Sarney, é reeleito em 2018 2012 foi emblemático, a maior nação imperialista elegeu o primeiro presidente negro da sua história, Barack Obama, pelo partido Democrata, o reelege em 2016. A seleção brasileira perdeu a copa do mundo de 2010 na África do Sul, foi massacrada em 2014 no próprio Brasil. Não esqueceremos os vergonhosos 7 X 1 contra a Alemanha, voltou a cair em 2018 na Rússia. Os últimos anos não foram os melhores para os brasileiros, desde o golpe que derrubou Dilma Rousseff, com a ascensão de Michel Temer, o país entrou em decadência, éramos a 6ª economia durante o governo petista, hoje somos a 14ª. Todos os fundamentos, econômicos, de estabilidade democrática, meio ambiente, questão indígena, direitos trabalhistas, educação, saúde, o pacto mantido quando da restituição da democracia, que teve seu ápice na promulgação de 88, estão em derrocada, um triste momento histórico.

Como se não bastasse, ainda apareceu no mundo a sars covid, que já matou acima de 5 milhões de pessoas, sendo no Brasil mais de 600 mil. A ansiedade para se tornar sexagenário é só mais uma nesta vida que sempre se pautou pela inquietação, a prova disso são as unhas sempre dilaceradas pela onicofagia. Sou casado a trinta e dois anos com Antonia Chaves Costa Leite, dessa união temos três filhos, Carlos Guilherme, Ana Flavia e Carlos Gustavo. Já com três netos, sendo duas meninas gêmeas, Maria Eduarda e Maria Julia e um menino, Yuri, filhos de Guilherme. Posso citar, embora ainda queira chegar mais longe, os textos bíblicos primeiro livro de Samuel 7,12, e segunda epistola de Paulo a Timoteo 4, 7, como resumo de vida. Sei que 2021 está sendo um ano difícil mas a humanidade já passou por outros problemas e conseguiu superá-los. Sigo meu caminho, mais velho, mais lento, mais condescendente com as dificuldades, continuo sonhador, utópico, minhas ideias de esquerdista cada vez mais convictas.

Sou um cristão anarquista, se esse termo não existe, irei inventálo. Sou enfim, um sobrevivente

2 respostas para “Artigo de João Carlos: Meia ponto zero, lapsos de uma existência…”

  1. Nobre João Carlos,

    Fico surpreendido com tamanha inspiração com que tu jogas com as palavras. Fizeste um texto digno de respeito e aplausos. Meus parabéns desde já.

  2. O TEXTO É QUASE UM LIVRO DIGNO DE PUBLICAÇÃO NAS MAIORES EDITORAS DO PAÍS. ISSO SÓ DEMONSTRA QUE A BAIXADA TEM GRANDES ESCRITORES E AMANTES DA LEITURA. PARABÉNS SEU JOÃO CARLOS.

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