Artigo de João Carlos: Baixada Maranhense, um rápido diagnóstico desta bela, promissora e amada região…

Sou o que se pode chamar de baixadeiro raiz. Filho de são – bentuense, comedor de muçum, com uma matinhense, comedora de manga, acabei contraindo núpcias com uma arariense, comedora de melancia. Desse modo, meus filhos são no aspecto geracional, uma mistura de muçum, queijo, jaçanã; com manga e melancia. ” Baixadeiros até debaixo d’água”, como diz o proverbio popular tão usual no nosso meio.

Povoado Itans, em Matinha

Outrora Baixada Ocidental Maranhense, essa microrregião inicia-se em Anajatuba e vai até Santa Helena, perfazendo 21 municípios. Junto as 13 cidades do Litoral Maranhense, configura o território que era só um, numa extensão de 27,514 km2, com uma população estimada de 710 mil habitantes. Uma das primeiras áreas a serem ocupadas no Maranhão, aqui são encontradas depois de São Luís, as mais antigas povoações organizadas, transformadas legalmente em vilas, nascendo como polis: Alcantara, fundada em 1648; Viana e Monção de 1757; Guimarães 1759; Pinheiro 1856; São Bento 1833.

Uma realidade explicada em função do processo de colonização ter sido realizado universalmente através das águas, sejam elas do mar, lacustres ou rios. Elementos encontrados em profusão por aqui. Tal modelo possibilitou de modo simultâneo que houvesse crescimento populacional em São Luís, a ilha de Upaon Açu – no idioma tupi – guarani -, e na Baixada, iniciando-se em Alcantara, Tapuitapera – em língua tapuia – desde a criação do sistema de Sesmarias, estendendo-se paulatinamente para o interior.

A Baixada Maranhense é uma verdadeira dádiva de Deus. Seus primeiros moradores, ou exploradores, a elite portuguesa, escravagista, utilizou das fantásticas capacidades em amplos aspectos, usufruiu e acumulou riquezas, transformando -a em referência econômica, um quase eldorado.
O intenso tráfego, troca de mercadorias, serviços, dentre outras atividades para com a capital maranhense, criou, fortaleceu, cevou fortunas, estabeleceu vínculos que só diminuíram no início século XX, quando a ocupação de outros espaços já urgiam avanços para continuar engordando o insaciável apetite da burguesia branca e rica aqui instalada.

Consolidou -se após a década de 1960, ocasião em que o transporte rodoviário se tornou hegemônico, desvencilhando-se quase que totalmente – a exceção foram os ferriboats – do aquaviário. A geração dos meus pais e a nossa já encontrou uma Baixada pobre, carente, debilitada, resultante da feroz, voraz exploração aqui realizada. Somos um belo povo, alegre, bondoso, trabalhador, hospitaleiro. Temos peculiaridades, que talvez devido a colonização, mostram ineditismos em relação as outras regiões.

Famosas são áreas cultiváveis, – tanto para agricultura, quanto a pecuária – além de uma piscosidade quase ilimitada. Diversidade é a marca registrada da região em diversos aspectos do caminhar da sociedade: cultura, religiosidade, culinária, turismo,- em todos as suas nuances –, ocorrem, podem e devem ser racionalmente aplicados, para o benefício da população. O fato de ser cortada por inúmeros rios, – alguns perenes – lagos, campos, igarapés, além de banhado pelo oceano atlântico, bem como vegetação vasta e diferenciada, tornam a Baixada um espaço ambiental singular no mundo. O que chamou a atenção de órgãos de defesa do meio ambiente, na percepção da necessidade de sua preservação. Em 1991 foi transformada em APA, -Area de Proteção Ambiental -, uma cabal demonstração de sua importância.

Campos naturais da Baixada

Uma miscelânia cultural e artística sacode nossa gente. A religiosidade Católica Romana, designou quando da criação, cada cidade com seu santo padroeiro. Possibilitando em comemoração de aniversários, festividades que celebram a união entre o sacro e o profano. Novenas e orações convivem e muito bem, com movimentos de compra e venda de bebidas.

Bumba – meu – boi, ( nos seus três ritmos), baile de São Gonçalo, festa de São Lázaro, festejos de São João, quadrilhas, bambaês, tambor de crioula, tambores de mina etc. estabelecem um sincretismo racial formidável, imenso, juntando as três raças que formam a nação: negros, brancos e indígenas, regado com boa pitada de sangue carcamano. Tudo sem nenhuma desavença, sempre tendo paz, harmonia, alegria, como horizonte.

Uma outra caraterística sui generis da região e que acaba chamando atenção, é a forma de falar, nosso sotaque. Diferentemente do resto Estado, e da Capital, o baixadeiro fala batendo com a língua nos dentes quando usa as letras “d, t e n”, construindo silabas com o “e” e o “i”, numa semelhança a falantes dos demais Estados do nordeste. Esta peculiaridade é tão marcante, causa tanta dissensão, e as vezes constrangimento, que acredito, todo baixadeiro já foi interrompido em uma fala ou discurso por assim se exprimir. Temos ainda, as expressões idiomáticas, prevérbios populares, palavras, verdadeiros dialetos, que só existem e circulam entre nossa gente. Alguém não acostumado, tem muita dificuldade para entender uma conversa de dois baixadeiros natos.

Em 1988, quando estava na presidência da República o maranhense e baixadeiro José Sarney, foi construída a MA 014, ligando a cidade de Vitória do Mearim, as margens do rio Mearim, a Santa Helena, que é ladeado pelo rio Turi, distando 222 quilômetros. Esta rodovia atravessa as cidades de Viana, Matinha, Olinda Nova, São Vicente Ferrer, São Bento, Pinheiro e Santa Helena, bem como oferece acesso a Cajari, Penalva, Pedro do Rosario, São João Batista. Uma monumental integração, permitindo a locomoção e a movimentação aos municípios, consequentemente, melhorando, estimulando o comercio, e/ou outras atividades.

Nos últimos anos, uma safra melhor de gestores, alguns deles filhos, netos, ou descendentes da antigas oligarquias que desde sempre dominaram; mas também nomes desconhecidos, sem a placa destas, vêm fazendo uma nova forma de governança, priorizando especialmente o potencial turístico e aquífero. Em conjunto com cidadãos que saíram da região, conseguiram boa posição financeira, e decidiram retornar ao seu torrão natal, além de gente que sempre morou por aqui, bem como com financiamentos de instituições creditícias, vêm dotando as cidades com condições de infraestrutura em açudes, sítios, chácaras, restaurantes, hotéis, normalmente próximo às belas enseadas que por aqui grassam, capazes de em pouco tempo, recriar aquele modelo de crescimento e riqueza, que a Baixada atingiu no século XIX, desta vez, esperamos, com mais inclusão das classes menos favorecidas.

 

Os exemplos podem ser sentidos. Já se contam histórias de pessoas que se deram bem, no aspecto financeiro, utilizando essa nova modalidade vida. Outro agente importante, é o espaço cultural ocupado pelos evangélicos. Outrora em minoria, ou até mesmo inexistente, essa forma de religiosidade encontra-se em expansão na região, bem como no País. Em todos os municípios baixadeiros temos representações das principais igrejas que professam o protestantismo, contemplando os segmentos tradicionais, pentecostais, neopentecostais. Destarte, também promovendo festividades, obviamente com as diferenças que caracterizam sua teologia quanto ao ritual, mas que no fim alcançam os mesmos objetivos. E que promovem a integração dos fiés, resultando em mais um evento de relevância.

Não fosse o tenebroso fato da economia do País estar nesse caos completo, trazendo reflexo para todos, acredito, estaríamos hoje, em situação mais satisfatória. Em suma, vivemos numa região abençoada por Deus. Com aptidões em todos os fundamentos. Maltratada sim, mas com um povo adorável, um clima ameno, e condições antropológicas, sociológicas, ambientais, econômicas, de melhorar seu povo e mudar seu futuro.

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