Sou um aficcionado do Facebook, nem tanto para postar, compartilhar, curtir. Mas principalmente receber notícias, ver, assistir matérias, vídeos, comentários, divertir-me, observar as medidas interativas que ele propõe. Estas são muitas, e se bem garimpadas, ajudam no conhecimento/ reconhecimento do momento em que vivemos. Isto tudo embutido num espectro sacramentado de besteirol que a sociedade já delineou e do perigo que representa.
Fundada e administrada por Mark Zuckerberg, é a rede social mais acessada na atualidade. Como todo engenho humano, capitalista, possui uma tendência não só marcada com objetivos de lucro financeiro, – prova disto é o fato do seu dono ser um dos homens mais ricos do mundo, – além de voltada a atividades que nada somam ao intelecto, obviamente, salvando- se algumas exceções.
Quando estou navegando, procuro evitar polemicas com debates estéreis, obsoletos, inconclusivos, de ódio, em comentários, tramas editadas, notadamente no que tange a área política, campo das ideologias. Essas querelas têm potencial altamente explosivo, desagregador. Só servem para desgaste pessoal e coletivo.
No Facebook é possível conseguir, adquirir, acessar, grupos e sites mais ou menos sérios, que promovem, aprofundam compreensões, entendimentos, cultura, ciência, filosofia, história, jogos de aprendizado, brincadeiras saudáveis, etc. .Os uso comumente. Das muitas inciativas propostas, indicadas, uma particularmente chama a atenção. Trata-se da pergunta – qual personagem histórico você seria, ou pareceria com você?-
Observando nos perfis que posso acessar, e as pessoas, amigos virtuais que tiveram ânimo de participar de tais eventos, encontro respostas hilárias. São elementos perdidos no tempo e no espaço do complexo universo da web.
Sem coragem de encarar o desafio, não tanto pelos nomes que porventura possam surgir, mas pelo medo de que através desse ato, esteja abrindo condições a que hackers invadam minha conta, capturando dados e posteriormente os utilizando em golpes, posto – me na posição de voyeur
No entanto, como a mente é livre e conforme aprendi, somos seres pensantes, fico elucubrando sobre qual sujeito histórico recairia o algoritmo “zuckberguiano”, mostrando minha alma gêmea. O pensamento voa, na lembrança dentre aqueles que a história já levou para a eternidade, que fazem parte do imenso rol da minha admiração, conhecimento, domínio, ancorados na leitura . Verdadeiros ou ficcionais, desfilam num movimento lúdico de esforço mental.
Estaria ele na idade antiga, média, moderna? Um guerreiro chinês, ,cidadão de Roma, trácio, maia, reformador juntamente com Calvino, Zwinglio, Lutero? Teria sido um discípulo da Academia de Platão, do Liceu de Aristóteles, ou do Jardim de Epicuro?
As opções vão se sucedendo no meu imaginário. Talvez fosse um cozinheiro nos navios piratas, escriba em Israel, vaqueiro no velho oeste, garimpeiro em Minas Gerais, gladiador, gângster em Nova York. Após centenas de alternativas, e com temor de ir ao facebook para a confirmação ou não destas. Concluo que o personagem mais apropriado com a minha alma, com quem mais igualo nas atitudes, concepções, sem dúvida alguma, seria Dom Quixote de La Mancha.
Criado pelo espanhol Miguel de Cervantes, em 1605, este herói fazia parte de uma obra que ridicularizava as antigas novelas de cavalaria medieval. Considerado o primeiro romance do tipo moderno. Um dedo na ferida, com viés de sátira a chamada era das trevas. Uma paródia aos costumes renegados pelo iluminismo, projeta um personagem acima de tudo idealista, sonhador, romântico, ultrapassado, lunático, démodé
Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro da Triste Figura, alcunha dada pelo seu fiel escudeiro – todo bom cavaleiro tem um escudeiro -, Sancho Pança, procura a todo instante salvar sua bela e amada donzela, Dulcineia de Toboso. Montado em seu fogoso cavalo Rocinante, mantém uma luta inglória e sem trégua, contra os malvados, ferozes, incultos, sinistros, gigantes imaginários
João Carlos da Silva Costa Leite, Jamba, epiteto que a maioria dos seus amigos – fiéis escudeiros – usa. Tenta ser cristão e marxista ao mesmo tempo. Montado na ideologia e razão, mantém uma guerra inglória, sem trégua contra monstruosas, toscas, abissais, colossais formas equivocadas de ver a vida.
Está armado o quadro comparativo, a verossimilhança.
A genialidade de Cervantes mostra ao longo dos 126 capítulos do livro que todo aquele arcabouço elaborado pelo Cavaleiro da Triste Figura, é apenas fantasia, fruto de sua imaginação, cevado pela intensa leitura e vontade de retorno a época grandiosa das cavalarias. Destarte, Sancho Pança é na verdade um vizinho; Rocinante, um cavalo velho e fraco; a donzela Dulcineia, uma assombração originada na infância já longínqua do herói; os gigantes poderosos meros moinhos de vento.
Em síntese: João Carlos e Dom Quixote têm afinidades de vida, missão, mister, objetivos. Ambos possuem bons propósitos, amigos dedicados, fértil idealismo, férrea vontade em fazer o que é certo. Senso de Justiça. Utopia no sangue. Estão fadados pelo destino a serem incompreendidos. Não conseguirão alcançar seus ideais.
Poderão quando muito, tal qual nas fábulas de Esopo, da Grécia antiga, propalar seus devaneios, quimeras, aquilo que propugnavam, às gerações futuras.
Oxalá, isso aconteça.
João Carlos da Silva Costa Leite é nascido em Matinha, bancário aposentado , estudante do curso de Filosofia da UFMA. Membro fundador da AMCAL , Academia Matinhense de Ciências , Artes e Letras onde ocupa a cadeira 17.
Estava sentindo falta das primorosas crônicas do acadêmico matinhense João Carlos.
João Carlos não nos deixe tanto tempo orfãos dos teus deliciosos textos.
Leio e releio várias vezes.
Leio, sempre, com prazer, os escritos de João Carlos. São crônicas ricas na forma literária e no conteúdo. De todas, destaco essa como uma das melhores já publicadas.
Aqui é a Bianca De Oliveira, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor, parabéns nota 10.
Visite meu site lá tem muito conteúdo, que vai lhe ajudar.