Crônica de Zilda Cantanhede: Tempo, quem pode contá-lo?

Zilda Cantanhede

Finaliza 2019. É dia 31 de dezembro. Momento propício para fazer um “balanço“ do ano que passou. Viver o presente. Imergir – se no passado. E emergir – se no futuro que acaba de chegar, 2020 começou! Muito bem enfatizado pelo Professor César Nunes, “abram alas para a terceira década do terceiro milênio – os anos 20 do século XXI”.

A “folhinha” – o Calendário – marca o fim de um ciclo cronológico; cumpriu seu papel de organizar as agendas civis e religiosas de uma nação, de uma cultura. Nos HDs internos, memórias indeléveis, únicas e exclusivas aos donos dos privilegiados cérebros, cujas máquinas têm capacidade de armazenamento de informações que excedem a quaisquer outras artificialmente inteligentes. Entretanto e entre tantas, há memórias que se faz necessário deletá – las. Dar espaço ao novo, ousado, produtivo, proativo. Novas versões que só o tempo é capaz de ajustar.

Parafraseando Caetano Veloso, em sua Oração ao Tempo, esse compositor de destinos, articulador de ritmos e rimas, em prosas ou versos. “Tudo a seu tempo”, diz o ditado popular, bem como em muitas literaturas, inclusive religiosa, citado em (Eclesiastes 3.1-8). Há tempo para tudo. Tempo inclusive para esperar. De acreditar em dias melhores, acreditar no poder da educação e nos professores, esses agentes transformadores de vidas e realidades. Entender que é só com o tempo que os resultados virão, mas que é preciso plantar, cuidar do broto, projetar a colheita.

E nesse transcorrer do tempo e de tempo, vamos caminhando, cantando ou não, construindo, fazendo histórias individuais e coletivas, pois não somos ilhas, vivemos sob a dependência de outrem, não sobreviveríamos sem os nossos pares, ou ímpares em muitas situações. Já dissera Gonzaguinha “Toda pessoa sempre é as marcas, das lições de outras tantas pessoas.” E assim somos um universo e ao mesmo tempo únicos. Únicos também a ter preconceitos, de qualquer natureza. Farei um recorte á xenofobia, tão em voga neste tempo. É inadmissível medir, julgar o outro pela sua origem geográfica. O canto de Luck Dube, em Different Colors, ilustra a importância do ser humano e suas diferentes cores, etnias, afinal somos tão semelhantes… Todavia, de quanto tempo precisamos para compreender isso?

É ano novo! Tudo se renova. Toquem trombetas, acendem fogos. Ascendem sonhos, sempre é tempo de sonhar, apesar das muitas distopias. Assim diria Chico Buarque de Holanda, (…) “Há muito tempo que essa minha gente vai vivendo a muque. É o mesmo batente. É o mesmo batuque. Já ficou descrente. É sempre o mesmo truque. E que já viu de pé, o mesmo velho ovo, hoje fica contente; porque é Ano Novo! E embora, a maioria do povo nordestino esteja vivendo a muque, somos antes de tudo um forte, tão bem ilustrado na célebre epopéia de Eurides da Cunha, em Os Sertões.

E para ”contar” o tempo nesta crônica ziguezagueante, faço menção á exortação sempre atual do Papa Francisco. Ao passado: gratidão; ao presente: entusiasmo; ao futuro: esperança. Assim sintetizo o ano de 2019, com o olhar focado neste ano 20! Desejo que seja recheado de saúde, amor, muitos glamours, vitórias e a presença de Deus seja sobremaneira exaltada, vista diariamente, de forma consubstanciada nas ações concretas feitas aos nossos semelhantes.

*Maria Zilda Costa Cantanhede, Acadêmica, membro fundadora e Secretária da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras; Especialista em Língua Portuguesa e Linguística, Educação do Campo, Educação Pobreza e Desigualdade Social; Graduada em Letras e Filosofia; Professora da Rede Estadual de Ensino, ex Secretária Municipal de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação de Matinha MA, cronista, revisora de textos acadêmicos. Projetista.

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