AOS PAIS, MINHAS RESPEITOSAS CONGRATULAÇÕES!
Carta a meu pai, já falecido.
Meu saudoso pai.
Não me lembro de ter feito uma única e especial carta para você enquanto vivia, porque sempre me dirigia a minha mãe e mesmo quando evocava “queridos pais” era para convencer-me de não estar subestimando seu valor e porque carecia da seguridade de suas responsabilidades paternas, capazes de manter-nos em São Luís, onde eu e minha irmã mais velha estudávamos. Alguns bilhetes você recebeu, apenas notificações em busca de satisfação de minhas necessidades mais básicas.
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O amor filial e paterno, que cada um de nós dois sabia sentir um pelo outro, era sufocado pela sua ideia machista de que entre homens o respeito, a obediência meus e tudo quanto pudesse dar para manter-me, além dos orgulhosos elogios que fazia de mim para seus amigos e vizinhos, seriam suficientes para mostrar que existia especial e particular sentimento entre nós. Então não pude abraça-lo e dizer-lhe em vida o quanto o amava, porque muitas vezes eu sofri por pensar momentaneamente que o odiava, reação aos castigos sofridos, os corretivos que me aplicava, tão severos e exagerados, há muito considerados necessários – consequências das rebeldias e desobediências às suas ordens e regime disciplinar. Pai sério, fechado e de poucas palavras. Assim foi meu pai!
A distância que hoje nos separa é impossível exarar e nem ouso, porque de vez em quando é tão ínfima, pelo simples fato de estar em minhas lembranças saudosas, em meu íntimo. Que distância existe nisto? Não aflora em mim nenhuma vontade de perdoa-lo por suas falhas, a saudade não deixa ser assim e aí vejo em mim o menino desobediente em considera-lo n’outro plano, se teimo em cultua-lo em minhas lembranças, se é exatamente assim que está em mim!
Você não foi pai de promessas, mas de atitudes possíveis. Não adotou a conduta de herói e terminou sendo uma admirável pessoa, de grande coragem e grandes feitos. Um verdadeiro valente!, mas, com sinceridade, conceituo você um pouco mais, tenho-o como referência e nem sempre a gente pode imitar as façanhas de um herói, mas pode-se estar sempre disposto a seguir os exemplos de honestidade, responsabilidades, generosidade e humildade recebidos.
Aos poucos, você foi mostrando que a qualquer momento partiria. Então, repentinamente partiu. Os anos passam e a saudade gradativamente vai se modificando, assume dores mais tênues, conformando-me com sua ausência e suas cobranças – em seus anos finais e por causa da senilidade, feitas somente com um olhar, o mesmo olhar que nos coadunava ou prevenia de futuros acertos de contas.
Ainda bem que Deus o levou quando eu já estava adulto e também pai, meu pai, porque se fosse criança, sofreria muito mais. Acho que as crianças não deveriam nunca ficar sem pais, sem protetores, à mercê das durezas da vida. Obrigado Deus, por ter-me provocado essa dor quando adulto.
Lembro-me das poucas e breves conversas nossas e o quanto me moldaram. Devo-lhe muito, além da vida, mas também a forma como a preservo. Muito daquilo que sou e serei sempre, apesar de algumas falhas imperdoáveis aos seus preceitos e conduta.
Saudades, Meu pai!
E agora, posso me consolar e imaginar lhe dar um grande abraço?
Professor Marcondes Serra Ribeiro
Belo texto. Belas palavras. Oportuna mensagem!
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