Artigo: Se a morte me pegar de supetão…

Se a morte me pegar de supetão!

Estarei eu preparado? Todos os meus débitos pagos? Terei vivido bem a vida? Passarei para o além como alguém revoltado? Deixarei um nome, um legado, para ser amado ou odiado? Conseguirei beijar minhas netas antes do fato? O curso de filosofia já estaria terminado? Estarei em casa, igreja, rua ou hospital? Será dia ou noite? Manhã ou madrugada? O que as pessoas dirão sobre o ocorrido? Terá muita piada no velório? Que pastor será responsável pelas exéquias? Qual o texto da bíblia utilizado? Será um dia chuvoso ou cercado de sol? Até quando serei lembrado? Em quanto tempo cairei no esquecimento? Quem estará chorando ou sorrindo na cerimônia?

Se a morte me pegar se supetão!

Quero todos os amigos seguindo o féretro. Terão plena liberdade de ação. Vou desejar quatro bandeiras cobrindo o ataúde: uma da IPIB, uma do PT, uma da minha cidade querida, e por último uma do Flamengo. Não será preciso choro. Muito canto entoado, músicas do “Cantai todos os povos”, o hinário presbiteriano independente; não deverá faltar o cântico um pendão real; Chico Buarque, obrigatório, ou ainda qualquer outro cantor de MPB. Nunca sertanejo, seja em dupla ou universitário, por favor, eu imploro, obedeçam. E no derradeiro momento, quando os torrões começarem a bater sobre o esquife, uma cantata da internacional socialista, certamente me agradará.

Se a morte me pegar de supetão!

Terei cumprido o proverbio do homem realizado, plantado uma arvore. Não tive tempo de editar e lançar um livro, mas terei, em tempo de mídia rápida, textos postados, além disso, produzi filhos. Certamente estarei em estado de felicidade. Levarei lembranças boas e tristes. Carregarei no baleado coração, já dotado de stent e tomado pela utopia anarquista, um número pequeno (quase não cabem nos dedos das duas mãos), de autênticos amigos, que considero mais que irmãos, companheiros, (no verdadeiro sentido da palavra: aquele que come o pão junto) nas batalhas.

Se a morte me pegar de supetão!

Irei rever (pois ela acreditava que nos reconheceríamos), no céu, mamãe Maria de Lola; minha mãe Tchem; papai, e meu mano Juvencinho, dentre outros familiares que já se foram deste mundo. Conversarei outra vez sobre política com o reverendo Adiel. Estarei tête- à – tête com Lutero, Calvino e Eduardo Carlos Pereira. Andarei nas ruas de ouro com Jesus.

Se a morte me pegar de supetão!

Gostaria de deixar no esquecimento perenal, o ponto onde meu corpo será enterrado, esse local não terá a menor importância. Não almejo louvores póstumos. Quero ser lembrado em vida, recordações guardadas no coração ou na alma dos me amavam ou odiavam, certamente alguns desafetos falarão mal de mim.

Se a morte me pegar de supetão!

Haverá o encontro entre o religioso e o filósofo. Todas as querelas e dialéticas, tão características, estarão ultrapassadas, fora de moda, obsoletas, será o reinado da concórdia. O jardim de Epicuro, do Éden, antes do pecado. A era da paz enfim. Que a eternidade do fenecimento me seja leve.

Se a morte me pegar de supetão…
Se a morte me pegar de…
Se a morte me pegar…
Se a morte me…
Se a morte…
Se a…
Se…
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João Carlos da Silva Costa Leite, é natural de Matinha. Bancário aposentado, casado, presbítero em disponibilidade da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB). Membro do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM). Membro fundador da Academia Matinhense de Artes, Ciências e Letras (AMCAL), ocupando a cadeira de número 17. Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).


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